Acerca do “culambismo”

No fundo, o cronista, com a sua sagacidade de sempre fala-nos dos enquistados na política, aqueles que há muito perceberam que aí têm a única e ajeitada escada para trepar, aqueles que exteriores aos arranjinhos circunstanciais e de oportunidade nunca vingaram em sector algum fora deste opaco âmbito onde exercem, além do “culambismo”, a subserviência do oportunismo.

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  • 12:40 | Segunda-feira, 06 de Dezembro de 2021
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No jornal “Público” do passado dia 4, na sua coluna habitual, “O ruído do mundo”, o social-democrata José Pacheco Pereira fazia uma lúcida reflexão acerca daqueles que “cada vez mais assumem lugares de relevo nas estruturas partidárias”.

Escrevia acerca dos cidadadãos “cuja única actividade e profissão é obtida pela influência interior nos partidos, e cujas carreiras não dependem um átomo da sua influência social, seja cultural, seja profissional, seja político.”

No fundo e conjecturalmente, o cronista, com a sua sagacidade de sempre fala-nos dos enquistados na política, os que há muito perceberam que aí têm a única e ajeitada escada para trepar, aqueles que exteriores aos arranjinhos circunstanciais e de oportunidade nunca vingaram em sector algum fora deste opaco meio onde exercem, além do “culambismo”, a subserviência do oportunismo.


E aí, nesses agasalhantes e esconsos semideiros da baixa política, acabam por alcançar lugares de relevo, os que sobram sempre, como gordas migalhas, da lauta mesa onde se sentam os outros, aqueles de quem são as permanentes e submissas sombras. Ungidos a quem nunca se conheceu acto socialmente relevante, culturalmente notório, profissionalmente assinalável. Andam por aí, de coluna vergada, até ao momento de se tornarem homo erectus, sem nunca serem o(s) “Levantado(s) do Chão”, de Saramago.

E é esta a sua “evolução”, fruto de uma coluna suficientemente maleável para aparentarem hipócrita humildade perante os poderosos e desmedida arrogância perante os submissos.

Os decisores políticos, esses, com louváveis excepções, convivem bem com a mediocridade e alguns até temem ter pessoas competentes em lugares de responsabilidade, talvez por se sentirem afrontados, ou pela básica vontade de distribuir o bodo aos pobres, acolhendo aqueles que são ou se tornam em “funcionários políticos cujas preocupações dominantes são o emprego, a carreira e as promoções. Nem ideologia, nem política e muito menos o país.” voltando à acutilância de JPP.

 

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