A revolução dos signos “é ontem”

  Quero um processador mais moderno. Esse sistema operativo está out. Boa memória RAM. Tem bluethoot? Tal Android é o 4.2? Esta reflex só tem 18 megapíxeis mas vem com um sensor CMOS- APS. Não gosto da cor da tua tablet. O teu Ipad só tem 7,9″? Sem download não vais lá. Ao menos que […]

  • 8:25 | Domingo, 15 de Dezembro de 2013
  • Ler em 2 minutos

 

Quero um processador mais moderno. Esse sistema operativo está out. Boa memória RAM. Tem bluethoot? Tal Android é o 4.2? Esta reflex só tem 18 megapíxeis mas vem com um sensor CMOS- APS. Não gosto da cor da tua tablet. O teu Ipad só tem 7,9″? Sem download não vais lá. Ao menos que aguente 360 h em stand-by. Quero uma smart cober às risquinhas. O meu portátil é híbrido. E o teu? Comprei-o no ebay. Sim, vem com o Windows 8. Se não tiver monitor LED nem vale a pena… Esse disco USB está off. É pá… que superview! O smartphone já está on. Detesto esse Iphone só com 16 GB e sem touchscreen… Preciso da pen e do adaptador. Esse disco tem 1 TB? Ok, vou para ali por causa do wireless. Claro que é de lítium! Uma cybershot ou nada… Venda-me um micro SD de 32b GB, sff. Compacta sem GPS nem pensar… De preferência com DUAL SIM. Estou a estudar mecatrónica. E tu, já fizeste computação afectiva? Penso que o útero artificial será solução… As células estaminais são promissoras. Faz log on nessa plataforma. O custo do genoma humano vai baixar. Ainda irei a tempo dos olhos biónicos? Essa firewall é toda bluff ! Os drones tiraram-me o emprego. Agora entregam as pizas por mim… Encomendou uma Fuelband Nike + no Amazon. A Sofia está em computação vestível. Já tenho um microchip na orelha e outro numa nádega. O meu peeble é mais smart que o teu watch. Quero um MYO… Perfeito esse ecrã RETINA. Tem apps avançados e um speed processador com arquitectura de 64 bits… Passo logo pelo App Store.

… ! …


Imaginem o Futurista Álvaro de Campo “Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte disso, tenho em mim todos os sonhos do mundo“, o Modernista Almada Negreiros “Pierrot dorme sobre a relva junto ao lago. Os cisnes junto d’elle passam sêde, não n’o acordem ao beber” e o Surrealista Cesariny “Os sebastiacas trombos não deixaram partir / Portugal para o Brasil“… a lerem aqueles extractos e a ficarem perplexamente siderados com tal “criptometagrafia” (a redundância é expressa!)…

Há uma revolução lexical na estratosfera. A geração mais velha fica out perante a maioria destas expressões domadas por qualquer adolescente de 15 anos que domina sabiamente esta new way semântica.

Maioritariamente com vocábulos originais do anglo-saxão, a língua high tech usa e abusa de iniciais e palavras contraídas ao seu mínimo, num pragmatismo exigente que não se compadece com faustos de linguagem.

Toda a comunicação está a revoltear e nunca se comunicou tanto nesta era da incomunicabilidade, onde até o oxímaro se veste de nonsense…

O virtual é sempre mais interessante e sugestivo que o real. A aceleração tecnológica é o speed, a adrenalina de muitas faixas etárias. Não há tempo a perder, porque num minuto surge uma miríade de invenções. E tudo está num continuum de desactualização. Aliás, o actual “absurdizou-se” e não ganha para neologismos…

Quanto ao tempo – esse inexorável arteiro – está em alteridade, quase domesticado. A imortalidade chega dentro de duas décadas. Deus morrerá.

 

Gosto do artigo
Publicado por
Publicado em Editorial