A Rua dos Panos no terreiro da feira

Em Loureiro de Silgueiros a Feira de S. Bartolomeu armava-se como se fosse uma cidade. Mágica cidade que se levantava no breve prazo que ia do anoitecer à madrugada, efémeras arquitecturas riscadas no chão com um prego ou a ponta de uma vara e a discreta solenidade dos fundadores de Roma guiando a relha do […]

  • 9:54 | Quarta-feira, 11 de Junho de 2014
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Em Loureiro de Silgueiros a Feira de S. Bartolomeu armava-se como se fosse uma cidade. Mágica cidade que se levantava no breve prazo que ia do anoitecer à madrugada, efémeras arquitecturas riscadas no chão com um prego ou a ponta de uma vara e a discreta solenidade dos fundadores de Roma guiando a relha do arado que traçava a linha da muralha. Depois era bastante um pano por assento e a cobertura do céu límpido de Agosto, cavaletes armados com tabuões soltos de madeira e toalhas aos quadrados se fosse para vender mimos de doceira ou para servir gasosa ou vinho atavernado, redes construídas com postes de pinheiro que deixavam ver ao longe a lençaria como se fosse alta varanda ao passar a procissão ou os luxos dos ourives reluzindo como ouro, às vezes tenda de imponente elevação para resguardo de balcão e da mostra colorida das fazendas.

Mordoma nomeada abria, de manhã, ao povo, a capela onde, pelo dia fora ardiam votos e, a meio do terreiro, a cruz de pedra lembrava a antiga paz da feira.

Depois era a rua dos sapateiros, a rua dos panos, dos correeiros, dos ourives, dos funileiros, dos louceiros e era o mar-a-monte da gente que entrava a vozear mal o sol rompia.


Na rua dos panos, na foto a deslado, não sabemos se vai bem o negócio da tendeira, que as sombras já se estendem e resta ainda muita roupa por vender. Estende a mão uma mulher e não sabemos se terá sido a venda derradeira. Não sabemos também o que comprou esta mulher. Roupa branca, uma toalha como as que se vêem penduradas, uma blusa ou uma saia plissada para a filha que está ficar uma mulher, um par de meias para homem ou rapaz?!…

Que nos importa?!… Irá guardá-la, mal o troco esteja feito, na alcofa de esteira que pousou ao pé de si e onde tem, comprada há pouco, uma peneira.

À sua espera, paciente, a companheira, miúdas compras numa alegre bolsa de retalhos e o púcaro de barro que segura com a mão.

Não sabemos quantas horas levarão, ambas, de caminho.

Legenda da foto: Feira anual de S. Bartolomeu (24 de Agosto) em Loureiro de Silgueiros.

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Publicado em Cultura