AQUILINO RIBEIRO, 2013. A CINZA DAS HOMENAGENS

  Não tem sido difícil encontrar no decurso dos anos plausíveis razões para homenagear Aquilino Ribeiro. Centenário do nascimento, implantação da República, data redonda de um aniversário, etc. Mas singular se tornou o ano de 2013 porque nele iriam lembrar-se os cinquenta anos volvidos sobre a sua morte, os cem anos decorridos sobre a publicação […]

  • 13:43 | Segunda-feira, 30 de Dezembro de 2013
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Não tem sido difícil encontrar no decurso dos anos plausíveis razões para homenagear Aquilino Ribeiro. Centenário do nascimento, implantação da República, data redonda de um aniversário, etc. Mas singular se tornou o ano de 2013 porque nele iriam lembrar-se os cinquenta anos volvidos sobre a sua morte, os cem anos decorridos sobre a publicação de suas primícias literárias, o Jardim das Tormentas, livro de contos que Carlos Malheiro Dias leva ao baptistério das Letras e também sobre a escrita de o Valeroso Milagre, novela depois inserta na Estrada de Santiago. E lá vem congresso, jornada, representação de peça de teatro, ciclo de palestras, visitas guiadas a locais de uma geografia vivencial, leituras, serões e tertúlias, reedição de livros, inauguração de Biblioteca, medalha, uma estátua em bronze. Lisboa, Porto, Loulé. Paredes de Coura, Lamego, Sernancelhe ou Soutosa, Moimenta da Beira, Paris e Viseu…, Universidade, Ateneu, Academia, Câmaras Municipais, a Fundação e um Centro de Estudos que guardam seu nome, uma ou outra Escola, tão poucas, a lista parece grande, mas não é. Sementes que foram, estes gestos, e fecundas desejaríamos que todas se tornassem. Mas nem sempre as sementes caem em generoso chão ou, se nascem, ervas daninhas vêm, às vezes, para as subverter. E estes semeadores que nós somos quantas vezes não olhamos para o campo do vizinho invejando-lhe a seara, que isto não vinha na lição do Mestre, quantas vezes tomamos as palavras e em vez de frutos maduros delas fazemos pedras de arremesso, quantas vezes não esquecemos que em nossa natureza sempre devíamos tratar-nos como irmãos e, estranhamente, apetece até perguntar porque é que o bronze de uma estátua que nasceu como projecto solidário e deveria servir como pura essência para unir se tornou gérmen de ódio e dissenção, porque tornou. E não será tão grave a mancha de tinta solta sobre a mesma por aleivosia de alguém, porque a nódoa se limpa e o bronze se reconstrói. Grave, verdadeiramente grave, é o vandalismo dos valores que vemos acontecer. E será através disso, dos valores, que Aquilino terá de ser homenageado. Apenas.


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Publicado em Cultura