VISEU . RURALIDADES – UMA DISCRETA VIGILÂNCIA

  (Textos ilustrativos de um antigo viver rural nas margens de Viseu ilustrados com imagens de Arquivo de Foto Germano)   A madre natureza ensinou a esta mãe tão fecunda o sereno e paciente jeito de uma vigilância discreta sobre a ninhada que, numa roda pouco mais larga que a maternal sombra, aprende os gestos […]

  • 11:56 | Quinta-feira, 04 de Setembro de 2014
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(Textos ilustrativos de um antigo viver rural nas margens de Viseu ilustrados com imagens de Arquivo de Foto Germano)

 


A madre natureza ensinou a esta mãe tão fecunda o sereno e paciente jeito de uma vigilância discreta sobre a ninhada que, numa roda pouco mais larga que a maternal sombra, aprende os gestos que ela aprendera já de sua mãe e que têm agora, como tiveram então, seu princípio com a insegura procura do pão.

Mais tarde, antes ainda que chegue o anoitecer, a vigilante mãe recolherá ao curral onde, generosa, se oferece a vianda temperada de duas mãos-cheias de farelo que a dona despejou na larga pia de pedra e é às vezes nessa hora, no geral mais tarde, quando ela se ajeita na cama de palha nova, que os filhos correm e se atropelam na busca gulosa do úbere túrgido da mãe, o que lhes calhou em sorte nesse primeiro dia em que a luz se lhes mostrou, e reservarão para si, ciosos da posse, enquanto o leite da mãe não secar.

Um dia virá em que um “porqueiro” atravessará a aldeia. Baterá à porta do lavrador e a porta do curral abrir-se-á então. E aquela mãe de filhos criados irá vê-los partir, sem lamentos talvez, mas ninguém sabe bem, nessa hora, se o “choro” dos filhos ainda a magoa.

Outro dia virá e desta vez ela irá a caminho da feira, com filhos ou não. Às vezes jornada de longas andanças, caminhos de terra e a dona chamando – vicávicá – duas malgas de milho colhidas do chão. E quando a feira à tarde se desfaz a dona que agora se sente ali só, esconde sem ninguém ver, uma lágrima que enxuga com o lenço guardado no bolso fundo do avental.

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