Resolvida, mas nunca esquecida…

  Depois de ter sido acontecimento mediático, desapareceu do debate e do discurso. Contudo, é bom que permaneça nas nossas lembranças ou memórias. Porque ciclicamente, e eventualmente mais vezes do que podemos esperar, situações similares vão surgir. Estou a referir-me ao modo como o Ministro da Saúde conduziu o dossier da negociação com a empresa […]

  • 17:51 | Domingo, 22 de Fevereiro de 2015
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Depois de ter sido acontecimento mediático, desapareceu do debate e do discurso. Contudo, é bom que permaneça nas nossas lembranças ou memórias. Porque ciclicamente, e eventualmente mais vezes do que podemos esperar, situações similares vão surgir. Estou a referir-me ao modo como o Ministro da Saúde conduziu o dossier da negociação com a empresa farmacêutica para o fornecimento do medicamento inovador que trata a hepatite C.

Aquilo a que assistimos foi um escândalo e uma vergonha. O modo como se abordou o assunto foi bem revelador da agenda de valores que este Governo defende, de insensibilidade e de crueldade difíceis de aceitar à luz dos valores éticos de liberdade, igualdade e fraternidade, que o espírito da Revolução Francesa nos ofereceu, e de uma prática politica que se pretende defensora da dignidade do homem e da sua vida.


Com este entendimento de acção política num campo tão sensível, delicado e importante para todos nós, seres humanos, como é o da saúde, quem ainda confia no Estado e nas suas atribuições neste domínio? Um Governo que deixa morrer os seus cidadãos, que põe em causa o bem mais precioso de um ser humano, que é a sua vida, por teimosia e inabilidade na condução das negociações, que confiança e respeito nos merece?

Quem pensaria, em pleno século XXI, num país dito civilizado e desenvolvido, assistir à morte de uma doente por hepatite C devido à espera de um medicamento que não apareceu, porque era caro, e um outro doente, na AR, nas mesmas circunstâncias, a interromper a sessão apelando ao senhor ministro que não o deixasse morrer e que queria viver.

Enquanto cidadão e responsável político, não tenho dúvidas em expressar a ideia de que a saúde e a salvaguarda da vida humana devem estar na linha da frente das nossas prioridades. O Estado e o Governo têm a obrigação legal e moral de dar segurança a todas as pessoas. Assim, embora percebamos que existam dificuldades e que devem ser elencadas prioridades, estas nunca podem sufocar ou preterir aquilo que, pessoalmente, não tenho qualquer dúvida em admitir: que a vida é uma primazia e que vale todo o nosso esforço, preocupação e atenção.

Este episódio trágico e desumano da actuação do Governo foi um sinal claro de que tem andado e anda esquecido das pessoas e só tem pensado e pensa em contas, em números, em resultados e estatísticas. Ora, estes dilemas não se podem e devem resolver na obediência a critérios económicos, por meio da retórica parlamentar, mas por critérios éticos e humanos, de respeito pela dignidade da pessoa humana.

Se é verdade que, neste problema, como em outros, afirmações como a de que alguém vai ter de pagar ou interrogações sobre quanto é a despesa são elementos importantes, nunca podem, porém, ser as primeiras preocupações a ser equacionadas

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Publicado em Opinião