Descoberta inédita permite simular os primeiros dias de implantação do embrião

Modelo criado em laboratório permite simular a implantação embrionária humana até ao 14.º dia de desenvolvimento, o limite legal para este tipo de investigação

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  • 13:57 | Sábado, 27 de Dezembro de 2025
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Uma equipa internacional de investigadores de Espanha, Reino Unido e dos Estados Unidos da América, conseguiu reproduzir em laboratório, pela primeira vez, a implantação do embrião humano nos seus primeiros dias de desenvolvimento, um processo complexo e decisivo para o sucesso de uma gravidez.

A importância da descoberta levou à publicação do estudo na revista Cell, uma das publicações científicas de maior impacto a nível mundial. O trabalho científico, intitulado Modelling human embryo implantation in vitro, foi liderado por Francisco Domínguez, investigador da Fundação IVI, e Matteo Molè, investigador da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos da América.

O modelo agora desenvolvido recria um endométrio humano em três dimensões a partir de células retiradas da camada interna do útero. Graças a esta solução inovadora, os investigadores conseguiram observar, com grande detalhe, o processo de implantação embrionária até ao 14.º dia, um marco nunca alcançado fora do corpo humano.

Pela primeira vez, é possível estudar o desenvolvimento completo do embrião humano até ao 14.º dia, utilizando um modelo que replica de forma quase perfeita o ambiente do útero”, explica Francisco Domínguez, autor principal do estudo. E acrescenta que o facto de este trabalho ter sido publicado na revista Cell reforça a relevância desta descoberta para a comunidade científica internacional.


Grande impacto na medicina reprodutiva e na investigação

O novo modelo representa um avanço significativo tanto para a investigação como para a prática clínica. A implantação embrionária continua a ser uma das fases mais críticas – e, simultaneamente, menos compreendidas – da gravidez e dos tratamentos de reprodução medicamente assistida.

Este sistema vai permitir perceber melhor porque falha a implantação em determinadas mulheres e desenvolver estratégias mais personalizadas”, refere Francisco Domínguez. O investigador sublinha ainda que, graças a este avanço, vai ser possível “recriar o endométrio de cada pessoa a partir das suas próprias células, o que abre caminho a uma medicina reprodutiva mais precisa e ajustada a cada caso.

O modelo foi otimizado para poder ser reproduzido por laboratórios de todo o mundo, o que facilita o desenvolvimento de novas linhas de investigação sobre os primeiros dias da gravidez.

Colaboração internacional e próximos passos

O estudo resulta de uma colaboração entre o instituto de investigação espanhol IIS La Fe, a Fundação IVI, a Universidade de Stanford (Estados Unidos da América) e o Babraham Institute (Reino Unido).

A equipa está agora a explorar novas aplicações do modelo, desde a análise de fatores moleculares envolvidos na implantação até ao desenvolvimento de intervenções que possam aumentar as taxas de gravidez em pessoas com dificuldades reprodutivas.

Para Catarina Godinho, ginecologista e subdiretora do IVI Lisboa, “este avanço representa um passo decisivo para aproximar a investigação científica da prática clínica, com impacto direto na forma são acompanhadas as mulheres com dificuldades reprodutivas, uma vez que permite desenvolver abordagens centradas em cada caso”.

 

 

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