“Fendra” – Lançamento

...uma obra singular que reúne expressões visuais criadas por participantes cujas vidas foram marcadas por relações íntimas violentas

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  • 17:30 | Segunda-feira, 08 de Dezembro de 2025
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FENDRA é lançado ao público no próximo dia 12 de dezembro, às 15h00 na FNAC Viseu, como uma obra singular que reúne expressões visuais criadas por participantes cujas vidas foram marcadas por relações íntimas violentas. Sem nunca recorrer ao termo “violência doméstica”, o projeto assume uma abordagem inovadora: a de que certas palavras cristalizam o que deve permanecer em movimento. A obra propõe, assim, um espaço de criação onde cada pessoa pôde expressar-se sem vitimização, sem rótulos e sem imposições narrativas.

No âmbito do Projeto CLDS 5G Viseu Plural: Itinerários Inclusivos, promovido pelo Município de Viseu e coordenado pelas Obras Sociais de Viseu, a Oficina de Movimento e Expressão Plástica tornou-se um espaço de criação e reconstrução pessoal para participantes vítimas de violência doméstica. Aqui, a arte e a expressão corporal abriram caminho para narrativas visuais que refletem resiliência, identidade e transformação.

Ao longo do processo, não foram recolhidos relatos individuais nem exploradas histórias pessoais de forma direta. Cada participante partilhou apenas aquilo que, no seu tempo e na sua medida, sentiu poder oferecer — um gesto, uma cor, um traço, um silêncio. O grupo evoluiu de forma orgânica: pessoas entraram, outras saíram, algumas mantiveram-se em espera. E, nesse fluxo, emergiu a consciência de que cada voz era parte essencial do processo criativo.

Através da expressão artística — desenho, pintura e movimento — foi construída uma linguagem comum. Para muitos, este percurso revelou-se simultaneamente descoberta e desafio. A desvalorização pessoal, frequentemente deixada por ciclos de abuso, tornou a criação num ato de coragem. Criar significou resistir, reconstruir e reivindicar espaço.


As páginas do livro refletem esta diversidade e profundidade: pequenos fragmentos visuais surgidos em momentos de espera, saudade ou incerteza. Neles, vê-se a força de quem insiste em manter viva a esperança. É dessa resistência que nasce a verdade e a beleza do projeto.

Mais do que um registo linear, FENDRA é um território de suspensão — um instante entre o que se perdeu e o que ainda pode vir a ser. Uma obra que convida o público a questionar: e se cada vida tivesse uma única cor, o que revelaria ela no papel? E será o papel alguma vez totalmente branco?

O livro propõe uma experiência de encontro. Um diálogo aberto, sem destino pré-definido. Fragmentos de presença que se cruzam e se transformam.

Porque, no fim, talvez o mais importante não seja contar uma história — mas escutar o que permanece no silêncio, no gesto e na cor.

Este projeto evidencia a importância de espaços artísticos comunitários como instrumentos de reparação emocional e social. Reforça ainda a necessidade de dar visibilidade a percursos muitas vezes silenciados, promovendo diálogo, consciência e inclusão.

 

 

 

 

 

 

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