O PS pode ganhar o Porto e Lisboa?

Neste momento, partindo das sondagens conhecidas, estão ainda muitos concelhos em aberto. Almada, Amadora, Aveiro, Braga, Bragança, Beja, Castelo Branco, Coimbra, Évora, Faro, Gondomar, Santarém, Seixal, Sintra e Vila Nova de Gaia e Viseu são os municípios maiores onde se jogam maiorias absolutas e presidências.

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  • 10:17 | Quarta-feira, 08 de Outubro de 2025
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Entramos na última semana da campanha para as eleições das câmaras e das juntas de freguesia. Estas eleições não têm paralelo, porque há um novo agente político que pode vir a mudar o estrutura tradicional dos votos em cada uma das autarquias e porque há, nitidamente, uma degradação do poder municipal português.

Tentei assistir aos debates das antigas capitais de distrito e dos concelhos maiores e foi, na grande maioria, uma tarefa penosa. Falta pensamento, visão estratégica, cultura política, por vezes até cultura democrática, e até falta a capacidade para a elaboração de um discurso escorreito.

Neste momento, partindo das sondagens conhecidas, estão ainda muitos concelhos em aberto. Almada, Amadora, Aveiro, Braga, Bragança, Beja, Castelo Branco, Coimbra, Évora, Faro, Gondomar, Santarém, Seixal, Sintra e Vila Nova de Gaia e Viseu são os municípios maiores onde se jogam maiorias absolutas e presidências. O PS tem mais a ganhar do que a perder. Mas é em Lisboa e no Porto que estarão todos os olhares na noite do próximo domingo.


Em 1989, numa situação em que o PS se encontrava muito fragilizado e com um mau resultado obtido nas legislativas de 1987, conseguiu ganhar, entre outras, as presidências de Lisboa e Porto. Foram duas estratégias distintas, caminhos completamente diferentes, mas que tiveram resultado positivo.

Em Lisboa estavam em confronto duas coligações, esquerdas contra direitas, Jorge Sampaio contra Marcelo Rebelo de Sousa. O PS era, na altura, o terceiro partido, mas Jorge Sampaio fez duas coisas muito relevantes: 1) assumiu a candidatura sem deixar campo para os outros líderes e suas estruturas; 2) reuniu muitas centenas de pessoas de centro e de direita que lhe deram cobertura para a vitória que se ambicionava.

Na presente contenda há, também, duas coligações, esquerdas contra direitas. A existência de um partido que se apresenta no campo das direitas ultramontanas, deveria permitir uma possível vitória das esquerdas com mais facilidade. Também a completa incompetência de Moedas no mandato que termina, deveria ampliar as possibilidades de vitória.

Alexandra Leitão é uma grande política. Mais, aprendeu mais no último ano sobre Portugal e sobre os portugueses do que em toda a sua vida adulta. Mas tem de impor um final de campanha que abra, que vá ao centro. Chamar Siza Vieira, Marcos Perestrello, Sérgio Sousa Pinto, Francisco Assis ou Álvaro Beleza, não é uma faculdade, é uma necessidade.

Há quem diga que ainda há abstenção à esquerda. Com os resultados da última sondagem, eu diria que ainda há 13% de eleitores à direita que são os do Chega. Quem acha que a CDU desce dos 5% é não conhecer o PCP no terreno autárquico, a força que tem em Carnide, por exemplo.

Se uma parte da direita que vota no Chega pressente que Moedas pode perder, ela usa o voto útil. Alexandra Leitão tem de ser ela, a presidente, que fala para todos os lisboetas independentemente dos partidos, que dá confiança, que não vai fazer da edilidade uma arca de Noé.

Lisboa é o único concelho onde as esquerdas se podem juntar. Quem acha que passando o Trancão é fácil usar as formulas políticas da capital, está muito enganado. O Porto é em tudo diferente.

Desde logo porque há dois movimentos de independentes próximos da AD e do PS, ambos com indicadores em sondagens entre 4 e 6%; depois, porque à esquerda do PS há as candidaturas do BE, do PCP e do Livre. Se estas de juntassem ao PS o resultado nunca somaria e não daria uma vitória. Pizarro sabe bem isso, como sabia Fernando Gomes em 1989.

Do lado direito há a AD e o Chega. Este último vale metade de Lisboa, é um partido de restos e de dissidentes do PSD e os candidatos não podem com o facto de Pedro Duarte ter sido o escolhido. É exatamente em Pedro Duarte que está um dos males das listas da AD. Duarte, mesmo tendo nascido no Porto, já não é do Porto há décadas, não sente nem vive o Porto, é alguém que se acomodou e a quem falta rasgo. Por outro lado, a candidatura da AD é uma soma de passado e de elites falidas, não tem um caminho, um futuro, uma formula de fazer com que os portuenses sintam que têm presidente, cara…o…

Pode Pizarro virar à esquerda e reivindicar abertamente o voto útil? Seria um erro! O candidato do PS tinha, nas suas anteriores candidaturas uma imagem e um discurso bastante à esquerda e restrito e aprendeu com os erros. A sua lista é o que há de mais centrista… O que se reclama é o apelo ao voto do Porto, de todos os que querem um portuense no edifício cimeiro da Avenida dos Aliados, alguém que saiba compreender os mais pobres, tenha cultura para entender os mais criativos e competência para levar o Porto a caminho do século XXII. Pizarro não tem falta de notoriedade, tem, por vezes, excesso de voluntarismo que faz desconfiar algumas pessoas.

As sondagens dizem que Pizarro tem mais hipóteses do que Leitão. Mas as sondagens não dizem mais nada do que o momento em que são feitas. Importa não errar e em ambos os concelhos falar para todos os lisboetas e portuenses, sejam de que partido forem. Afinal, o negócio de um candidato a Presidente de Câmara são cruzes, o maior número de cruzes.

 

Ascenso Simões

Gestor e ex-Membro do XVII Governo Constitucional

 

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Publicado em Opinião