A Injustiça Ferroviária de Viseu: A estação de Mangualde como Símbolo de Desinvestimento

Assistiu-se à modernização da linha, mas não à modernização da visão e do respeito pelas pessoas e das instituições da Beira Alta. A requalificação da infraestrutura técnica esqueceu-se dos utilizadores, tratando o beiraltino como um cidadão de segunda ou terceira classe, condenado ao esquecimento e à privação de uma mobilidade com conforto e sofisticação básica.

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  • 12:55 | Sábado, 04 de Outubro de 2025
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A cidade de Viseu não tem comboio, e esta é uma realidade que condena à invisibilidade a sua população, que viu parte da sua centralidade ser destruída com o encerramento da estação de Viseu, outrora um nó vital que servia a Linha do Dão (ligação a sul/Lisboa) e a Linha do Vouga (ligação a norte/Porto).

Foi com pompa e circunstância que se inaugurou a ecopista.  Puro sofisma para a eliminação do comboio de Viseu.

A propaganda criou o delírio.


A sociedade nem se deu conta.

Na euforia de ter uma ecopista e poder dar umas pedaladas de bicicleta, o viseense nem se deu apercebeu ter ficado sem comboio, que se tinha ido definitivamente.

Actualmente, a alternativa é a Linha da Beira Alta, cuja porta de entrada é o apeadeiro de Mangualde.

Um Apeadeiro que clama por Dignidade

Aliás, chamar-lhe apeadeiro é um eufemismo que evita o termo “barraca” ou “galinheiro”, mas descreve com precisão a estrutura exígua e indigna que serve toda uma região.

A realidade é chocante: a estrutura apresenta apenas nove lugares sentados para quem espera pelos raros comboios que ali param, o que é manifestamente escasso para um grupo de pessoas que queira fazer uma viagem de estudos ou uma excursão. Jovens ou idosos. Não existe qualquer oferta de serviços básicos como cafetaria, restaurante ou instalações de apoio, os quais são hoje obrigatórios em qualquer estação ferroviária que se pretenda minimamente funcional e respeitadora das necessidades dos seus utilizadores. Não tem um espaço de venda de produtos regionais, um queijo da serra, um pastel de feijão, ou um vinho do dão.

 

 

Assistiu-se à modernização da linha, mas não à modernização da visão e do respeito pelas pessoas e das instituições da Beira Alta. A requalificação da infraestrutura técnica esqueceu-se dos utilizadores, tratando o beiraltino como um cidadão de segunda ou terceira classe, condenado ao esquecimento e à privação de uma mobilidade com conforto e sofisticação básica.

Esta indignidade é apenas a ponta do icebergue de um desinvestimento crónico no distrito de Viseu.

Não é apenas o comboio:

* Não é apenas a IP3.

* Não é apenas a falta de uma Universidade plena.

* Nem a ausência de sedes de organismos centrais, como a PJ ou um Tribunal Superior.

Por cá vai faltando um pouco de tudo, mas, acima disto, falta-nos tratarem as nossas gentes com dignidade.

O desinvestimento no acesso ao comboio é o símbolo mais claro de que o distrito de Viseu continua a ser sistematicamente ignorado nas políticas de coesão territorial.

 

Pedro Esteves

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