O primeiro ministro alertou para o “oportunismo político” dos partidos da oposição, no contexto do sinistro com o elevador da Glória, fazendo jus ao aforismo “Bem prega frei Tomás, faz o que ele diz, não faças o que ele faz”.
Mais uma jogada de antecipação de Montenegro – táctica na qual é consabido perito – na tentativa de calar as vozes dissonantes que não tardarão a exigir responsabilidades sobre as causas do acidente que já vitimou mortalmente 16 pessoas.
Sendo a Carris uma empresa da responsabilidade e alçada da câmara de Lisboa, o seu presidente, Carlos Moedas é quem tem de responder sobre os meandros de toda esta situação, acompanhado do presidente do CA da Carris, por Moedas nomeado, o advogado Pedro Bogas, ex-assessor de Sérgio Monteiro, antigo secretário de estado Estado das Infraestruturas, Transportes e Comunicações entre 2011 e 2015, durante o governo de Pedro Passos Coelho.
Talvez mais um “job for the boy” ou talvez Bogas seja um “expert” na matéria de transportes colectivos urbanos. Adiante.
Moedas, a um mês das autárquicas ficou altamente exposto e fragilizado.
Moedas que clamava pela demissão do seu antecessor, Fernando Medina, no caso da violação de dados de cidadãos do leste ocorrida em 2021, não segue consigo próprio o que exigia a terceiros. Normal, numa perspectiva de oportunismo político.
Contudo, dele se aguardam cabais dilucidações sobre o caso, ao pormenor, nomeadamente no que concerne à manutenção do equipamento sinistrado, à empresa externa MNTC, ou Main, responsável há seis anos pela manutenção do ascensor a troco de 4 milhões de euros, há uma semana, curiosamente, em situação de ajuste directo e cujo responsável se encontra de momento incontactável. Seria também interessante conhecer-se a estrutura accionista da empresa, que detém um capital social de 15 mil euros, para que quaisquer eventuais dúvidas, também aqui e em concreto, se desvanecessem.
Acrescente-se que, segundo Pedro Bogas, o elevador da Glória teria sido inspecionado na manhã do acidente sem que quaisquer problemas fossem detectados. Mais um pormenor relevante a clarificar, pois “a bota não bate com a perdigota”.
Montenegro e Marcelo, este em penoso fim de exercício, com toda a urgência e temendo o resultado eleitoral autárquico em Lisboa, criaram num ápice uma almofada de conforto, protecção e amparo a Carlos Moedas.
Ademais, este foi inusitadamente convidado para estar presente na reunião do Conselho de Ministros, apareceu no local do acidente a depôr flores espaldado pelo presidente da República e pelo primeiro-ministro e sentou-se em primeira compungida e lutuosa fila na missa celebrada pelo patriarca de Lisboa na igreja de S. Domingos, pelas vítimas do elevador do acidente, para a qual foram previamente convidadas as televisões deste país, que se deram ao trabalho de passar em horários nobres grande parte da homilia. Será a grande maioria dos eleitores católica?
Ou seja, Marcelo e Montenegro andam com Moedas ao “colinho”, bem cientes da responsabilidade que sobre este impende e prescientes de que a possível perda da autarquia lisboeta seria um duro revés político para a AD.
A questão coloca-se: perante a contenção e silêncio de respeito pela oposição até agora manifestado, o “oportunismo político” é de quem? Provavelmente dos ágeis reparadores de estragos, Marcelo Rebelo de Sousa e Luís Montenegro. Assim tais e tão competentes técnicos tivesse o elevador da Glória…