Os telemóveis

Portugal tem a tradição de ser um ás a legislar e um asno a fiscalizar. Por mim, que o passo seguinte seja a proibição até ao 9.⁰ ano. Quando as cabecinhas inocentes das meninas e dos meninos começam a despertar para as regras e para a importância de se viver numa sociedade equilibrada, com princípios e valores.

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  • 15:34 | Segunda-feira, 07 de Julho de 2025
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O governo proibiu o uso de telemóveis nas escolas, até ao 6.⁰ ano. Parece-me bem. Tarde vem, o que nunca chega. Espero que seja para valer. Não venham por lá os investigadores europeus – já perfilados e deslumbrados com dois mitos urbanos, que o dia-a-dia descarta, duas virtuosas epifanias: “banir não é o melhor passo” e “a solução passa por um diálogo intergeracional“.

Não desprezando as associações de inquilinos e vinhateiros e os virtuais digitais, suportados em argumentos de cordel e pareceres de defuntos, prontas a reivindicar e pressionar, para que tudo se esfume numa voluta negra. Os arautos da liberdade absoluta, os “entertainer’s” do espectáculo das fantasias, ajudarão à festa barulhenta. Nunca nada lhes parece bem, só a sua agenda traquina lhes guia os passos e os pensamentos.

Está o circo montado, quando o ano lectivo começar e o “tuga” regressar de férias, bronzeado, com a barriga a rebentar de “jolas”, os botões a soltarem-se da camisa, e a arrotar a tremoços. Pronto para a bulha sumarenta.


Portugal tem a tradição de ser um ás a legislar e um asno a fiscalizar. Por mim, que o passo seguinte seja a proibição até ao 9.⁰ ano. Quando as cabecinhas inocentes das meninas e dos meninos começam a despertar para as regras e para a importância de se viver numa sociedade equilibrada, com princípios e valores.

Ninguém se educa com o nariz enfiado no telemóvel, nas luzinhas que acendem e levam para um mundo tumultuoso. Ver crianças presas ao telemóvel, focadas nos jogos, agarradas ao aparelho, mete dó e revolta.

Os pais têm culpa dobrada. Talvez que, entretidos e entusiasmados, assim os libertem para as suas ocupações. A um tropeção sem importância, chega esbaforida a mãezinha à escola, trazendo rolos de gaze, água oxigenada e sulfamidas. Perante uma ofensa de um colega, logo se achega o pai melindrado, tirando desforço do abuso. É tudo instantâneo. Estamos a construir uma geração de perigosos indiferentes e de cabeças vazias. De indigentes sociais. Não socializam, não interagem, a linguagem que utilizam é cifrada, um código tonto, sem sentido. De fones nos ouvidos, não ouvem ninguém, só a música que lhes ataranta as monotonias.

A tecnologia é a grande obreira das mentalidades. Não teremos bem a noção do que está a acontecer. O mal banalizou-se de tal modo, que já nos parece normal. Criaturas amorfas e ignorantes, relapsas e desleixadas nas maneiras, mas com diploma oficial, é o que há mais.

Estamos a criar, e a alimentar, disfuncionais, para quem a regra é não haver regra. Pagaremos por isso, quando formos governados por elas e por eles.

Há excepções, claro que há. Ainda bem que há quem resista à delinquente invasão tecnológica. Saúde e aplausos para a resiliência dessas famílias. Esta desarrumação não durará muito. Não pode durar muito. A ilusão é tão utópica – a repetição é intencional – tão desconchavada, que o normal é o desencadear de um processo de revolta. Doloroso, mas necessário. Com este modelo, não vamos sobreviver muito mais tempo. Não aguentamos o monstro que ajudámos a criar. Quando acordarmos, quando nos sentirmos incomodados, não sei se teremos forças para domar a besta.

É urgente voltarmos ao essencial, ao básico, aos alicerces, ao que vale a pena. O que verdadeiramente me aflige, é não vermos o que nos entra pelos olhos dentro. Esperançados em melhores tempos, façamo-nos à doçaria tradicional, que sempre nos lambuza as beiças.

Com papas e bolos, se enganam os tolos.

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