O direito à diferença

Dividir para reinar é quase sempre pedra que ricocheteia e os seus adeptos, mais cedo ou mais tarde, serão vítimas daqueles que tentaram vitimar.

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  • 8:32 | Segunda-feira, 26 de Maio de 2025
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Não via há muito situações sociais — cada vez mais recorrentes — nas quais a partilha de posições de discordância em plurais matérias: desportivas, artísticas, religiosas, ideológicas, et al, fosse razão e motivo para hostilidades e aversões.

Não temos que ser unânimes, porque isso é para países como a Coreia do Norte, por exemplo, onde a diferença de gostos e de opiniões é severamente punida. Reprimida. Suprimida. Letal.

Se fôssemos todos do Sporting, ou do Benfica, as outras equipas não tinham razão de existir e o futebol desaparecia enquanto salutar desporto e competição.


Se apenas apreciássemos Paula Rego ou Júlio Pomar, teríamos uma visão afunilada e redutora sobre a pintura contemporânea portuguesa.

Se todos fôssemos seguidores do Chega, ou da AD, ou do PS… viveríamos num regime monopartidário de porta aberta a todos os despotismos. Estilo Rússia, Venezuela, Argentina… onde aqueles que não são adeptos da extrema direita ou da social democracia ou do socialismo são nossos ferozes inimigos. Visão mesquinha da democracia, perspectiva errada do direito à diferença. Princípio da ditadura ideológica ou da ideologia dominante com supressão da dissidência.

Se todos partilhássemos a mesma religião, num fundamentalismo indigno, ou perdêssemos o direito de ser ateus, criaríamos uma redutora e limitada visão teológica.

E porém, com os ódios acirrados, com as frustrações a emergirem em catadupa, com os maus exemplos que todos os dias nos entram ecrãs adentro, a irredutibilidade, a falta de tolerância e o rancor contra o outro, as suas ideias, as suas opiniões, os seus direitos… a sociedade gera fissuras profundíssimas e cria a adversidade, a execração, a repulsa pelo outro, pelo seu legítimo direito à diferença, pela diversidade de convicções e de juízos.

Não tarda, andaremos todos de costas voltadas, desconfiados, censurados e censores, inimigos e oponentes daqueles que há bem pouco tempo críamos cidadãos com quem nos entendíamos no pleno respeito dos gostos, opiniões, crenças e credos.

Esta é a sociedade da divisão, da apartação, do ressentimento e da raiva.

Dividir para reinar é quase sempre pedra que ricocheteia e os seus adeptos, mais cedo ou mais tarde, serão vítimas daqueles que tentaram vitimar.

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