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Saudades sem fim

Álvaro Cunhal vivia no Freixial, sob a capa de um jovem doente a convalescer no campo. Apaixonara-se por uma estudante liceal, que o tomou como estudante universitário. Diz-se que era com ela que passeava em Lisboa, infringindo as regras da clandestinidade.

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    • 22:24 | Sábado, 28 de Novembro de 2020
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    José Pacheco Pereira diz que a polícia política começou a procurar Álvaro Cunhal em 1941, mas só em 1945 se deu conta do vigor reorganizativo que ele imprimira ao Partido Comunista Português.

    Corria o boato de que ele, escondido na clandestinidade, fora visto em Lisboa. A PIDE apresentou-se no escritório do pai, Avelino Cunhal, advogado e professor, e, nas buscas, encontrou uma tira de papel com o seguinte endereço: Avenida Almirante Reis, 254 – 4.º esq. Que morada era aquela, assim dactilografada com tanta singeleza? As explicações tiveram de ser dadas na prisão, para onde foi conduzido em 31 de Janeiro de 1945.

    A PIDE também prendeu a irmã, com apenas dezoito anos. A mãe pôs-se à porta da polícia, reclamando ao menos a libertação da filha.

    Álvaro Cunhal vivia no Freixial, sob a capa de um jovem doente a convalescer no campo. Apaixonara-se por uma estudante liceal, que o tomou como estudante universitário. Diz-se que era com ela que passeava em Lisboa, infringindo as regras da clandestinidade. Acossado, teve de sair daquela casa, fugir, afastar-se da amada. Para não a perder, deu-lhe uma carta dirigida ao pai, Avelino Cunhal, que ela devia entregar se fosse morar para Lisboa, como de facto sucedeu. A carta tinha o seguinte teor:


    «Querido Pai:

    A portadora é uma rapariga minha amiga que vos pode falar da minha saúde e disposição.

    Interessa-me muito e gostaria de não perder totalmente o contacto com ela. Pensei que, como último recurso no caso de ela mudar de residência, poderia deixar-lhe a si, querido Pai, uma indicação. Um dia, alguém lha iria pedir.

    Para vós três,

    saudades e beijos sem fim do vosso

    Álvaro»

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