Um ano depois e que tal?

  Há um ano uma tragédia abateu-se sobre o nosso país, com o nome de “incêndios”. E é assim todos os anos, um jornalista alerta-nos de um fogo a lavrar no país, um bombeiro queixa-se da falta constante e sucessiva de meios e um algum civil explicita não perceber como é que as florestas não […]

  • 12:58 | Domingo, 17 de Junho de 2018
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Há um ano uma tragédia abateu-se sobre o nosso país, com o nome de “incêndios”.

E é assim todos os anos, um jornalista alerta-nos de um fogo a lavrar no país, um bombeiro queixa-se da falta constante e sucessiva de meios e um algum civil explicita não perceber como é que as florestas não são limpas.


Um ano depois dos incêndios de 17 de junho e 15 de outubro, continuamos com uma densa floresta no interior, que ainda está por limpar, ou porque alguns terrenos são propriedade do Estado, e o mesmo não limpa, ou porque, a Dona Maria aufere uma pensão de velhice de 250 euros e para limpar todos os seus terrenos precisa de 5000 euros, montante superior ao valor das propriedades.

A autarquia, juntamente com as juntas de freguesia, vai apenas organizando umas ações de sensibilização para o caso de incêndio.  A GNR fiscaliza os terrenos que se encontram perto de habitações, mas nada comparado com o trabalho persistente e continuado desempenhado pelos antigos Guardas Florestais.

E é nesta falha de fiscalização, que ao lado de muitas estradas, onde muitos proprietários dos terrenos procederam ao corte das árvores queimadas, que e de seguida se plantam manchais “brutais” de eucalipto, uma árvore facilmente inflamável e que provoca a seca dos lençóis freáticos.  E este é o exemplo notório no IP3 e noutras estradas do país.

Os bombeiros, o exército… mais barato, onde mais de metade são voluntários, os restantes auferem um rendimento, correspondente ao ordenado mínimo no verão, recebendo mais um subsídio, queixam-se da falta de condições, de equipamentos, de auto-tanques e da imensa falta de meios para trabalhar. Além do esquecimento, pois, de facto, é das profissões mais ignoradas e desprezadas, apenas lembrada e homenageada na fase crítica de fogos.

O Estado alugou mais aviões para o combate aos incêndios, há muito se fala na grande “máfia” escondida por detrás de alguns destes contratos, assunto que é do conhecimento público há anos.

Alargou-se a época de incêndio. Eu achava que bastava termos um dia com alta temperatura e tudo seco, para ser um dia propício a incêndios, mas o nosso estado vai mais além, através da publicação de uma portaria, “Diário da República, portaria n.º 119/2017, Série I de 2017-06-22”. No ano passado esta portaria vigorava até dia 30 de setembro, mas após mais uma tragédia que marcou o ano, alargou-se até dia 15 de outubro.

O incêndio que deflagrou em Pedrógão Grande, no dia 17 de junho, no distrito de Leiria, provocou pelo menos 66 mortos e mais de 200 feridos.

Os incêndios de dia 15 de outubro de 2017, na zona centro do país, com 443 ocorrências, registaram 45 mortos, 70 feridos e mais de 500 empresas destruídas.

Os membros do Governo dizem que “foi uma situação atípica incontrolável”, e contudo, basta irem ao google maps e ver a imensidão de área florestal em Portugal. Há falta de memória e de ação política. É verdade que há fenómenos climatéricos, mas a questão da reflorestação no ordenamento florestal, não é um fenómeno natural. As medidas impulsionadoras da descentralização, para fixar população no interior, também não são um fenómeno natural.

Hoje, passado um ano, temos o “famoso” bombeiro de Pedrógão Grande, fisicamente incapacitado, usufruindo um subsídio de 254 euros mensais, 40 % de casas por reconstruir, alcatrão preto, o nome de aldeias derretido, a cruz no cemitério, um verde rasteiro entre o preto, e temos promessas e medo de um dia igual.

Será que todas estas mortes foram em vão?

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