OS DESDENTADOS

    Em 2014 a comunidade internacional ficou a saber que Francois Hollande trata os pobres como os “desdentados”. A informação foi veiculada pela ex-primeira-dama, Valérie Trierweiler, no livro “Merci pour ce moment”. A comunidade internacional reprovou a atitude, mas não ficou em “choque”. Também em Portugal há quem olhe para o outro e não […]

  • 10:48 | Quarta-feira, 03 de Junho de 2015
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Em 2014 a comunidade internacional ficou a saber que Francois Hollande trata os pobres como os “desdentados”. A informação foi veiculada pela ex-primeira-dama, Valérie Trierweiler, no livro “Merci pour ce moment”.


A comunidade internacional reprovou a atitude, mas não ficou em “choque”.

Também em Portugal há quem olhe para o outro e não poupe na adjetivação: o “desdentado”, o “pobrezinho”, o “incapaz”, o “dependente”…

Talvez radique na miopia, seletiva e segregadora, de uma certa (pseudo) elite a razão para a contínua reprodução da pobreza e a incapacidade que, enquanto comunidade, temos demonstrado para acionar o botão que faz funcionar o “elevador social”.

A Ordem dos Médicos Dentistas denunciou ontem que a Autoridade Tributária está a aplicar a taxa de IVA máxima a alguns implantes e próteses dentárias. Esta situação é descabida porque se o implante, as peças de conexão e o dente artificial forem colocados simultaneamente pagam IVA de 6%, se forem separadas são taxadas a 23%. Surreal… Além disso, há um fator a considerar, como sublinha o bastonário, Orlando Monteiro da Silva, “grande parte da população tem falta de dentes”. Uma situação que pode agravar-se!

Pode parecer um preciosismo, mas há diferença entre população ou pessoas sem dentes e desdentados. O “desdentado” é uma condição, um rótulo, é pejorativo e estigmatizante.

A pessoa com falta de dentes é, em primeiro lugar, isso mesmo, ou seja, uma pessoa humana a quem, circunstancialmente, podem faltar dentes, mas poderá voltar a tê-los, ainda que sejam próteses ou implantes dentários, desde que tenha disponibilidade financeira.

A saúde oral, no nosso país, é um dos parentes pobres do Serviço Nacional de Saúde. A manutenção dentária, que pressupõe consultas regulares, não está ao alcance de muitos portugueses.

Temo que aumente o número de pessoas com falta de dentes, a não ser que a Autoridade Tributária e os nossos governantes intercedam atempadamente.

Os implantes e as próteses já são caras, mas poder-se-ão tornar um luxo apenas acessível a algumas bolsas.

Os dentes de ouro, em tempos idos, foram utilizados como símbolo de poder e status. Esteticamente, as próteses em ouro caíram em desuso, sendo usadas apenas por uma ou outra celebridade mais excêntrica.

O sorriso bonito dos tempos modernos requer dentes brancos e alinhados que, não sendo feitos em ouro, começam a ser pagos quase como se do valioso material se tratasse.

 

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Publicado em Opinião