(A)mordaça o Centro e chegas a Lisboa

Esta semana, no âmbito das investigações que MP e PJ têm conduzido, foi detido mais um administrador do Grupo Lena facto que, nos últimos tempos já nem constitui motivo de admiração. O que me traz, hoje, a este assunto, é algo mais próximo aos Viseenses e ao modo como se desenvolvem os “interesses” em redor […]

  • 0:25 | Quinta-feira, 16 de Julho de 2015
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Esta semana, no âmbito das investigações que MP e PJ têm conduzido, foi detido mais um administrador do Grupo Lena facto que, nos últimos tempos já nem constitui motivo de admiração.
O que me traz, hoje, a este assunto, é algo mais próximo aos Viseenses e ao modo como se desenvolvem os “interesses” em redor da vida política local.   Não é novidade, para nenhum leitor mais atento, que em torno dos projectos locais de comunicação social giram diversas vontades de natureza eminentemente política. Por exemplo a história do Jornal do Centro, que nos últimos anos acompanhei mais de perto, tendo em dado momento sido até ali cronista, é na sua essência uma história de interesses mais ou menos obscuros e movimentações partidárias.
O Jornal, como meio de comunicação, tem um interesse estratégico para os partidos que disputam o poder e para personagens que se procuram afirmar ou reforçar o seu poder, na medida em que é um canal de comunicação que possibilita a formação de opiniões.
A exemplo disto, recordo que no tempo da anterior administração, não sendo o jornal alinhado com o poder nem com os rostos que desejavam ser alternativa, sempre que surgiam notícias ou artigos pouco simpáticos, logo aconteciam os telefonemas, pressões e/ou problemas de financiamento que acabaram por colocar em causa a sustentabilidade do mesmo.   Claro que não há problemas sem solução e providencial foi a aproximação de João Cotta a este meio de comunicação.   O leitor certamente se recorda dessa época em que o actual co-proprietário tinha a sua foto publicada a cada duas páginas do jornal, fosse a falar como grande empresário, como analista da realidade política, ora apresentando ideias de futuro, ora apenas manifestando o seu novo interesse por Aquilino, escritor que desconhecia até então. Obviamente, João Cotta, depois de se tornar uma voz indispensável à cidade enveredou pela carreira política, sendo que ir em listas do CDS ou do PSD, era totalmente indiferente logo que não fosse ao que consta, nas palavras do próprio, o “segundo de ninguém”. Tinha acabado de nascer um novo tipo de líder local para o séc XXI ou quem sabe, uma futura candidatura nacional a deputado da nação.
Retomando a história, a situação do Jornal começa a degradar-se e o gerente, empurrado por diversos interesses políticos, decide que o melhor a fazer, para salvar o jornal, é afastar quem impossibilita a obtenção de financiamento; i.e afastar quem manifesta a sua opinião sem estar alinhado com o poder e o director que permite tais desaforos.   O plano corre às mil maravilhas, é afastada a parte que não agrada da anterior direcção. E quem não se recorda da festa da inaguração das novas instalações do Jornal do Centro, em Marzovelos, onde pontificaram destacadas figuras do poder como Dr. Jorge Sobrado, Dr. Nascimento, Vereadores e diversas figuras de destaque do PSD Local, facto que na cidade ninguém achou estranho, nem o PS.
Mas, todas as histórias têm um mas e, apesar do jornal já estar “domesticado”, a recompensa prometida tarda em aperecer e surge, de novo, o salvador João Cotta, desta vez aliado ao já então vereador João Paulo Rebelo (em quem o PS deposita muitas esperanças no futuro, pelo menos na sua imaginação, pudera!!), aliados a um terceiro elemento do Grupo Lena, isto para grande sossego das cúpulas do PS e PSD locais.
Sobre tudo isto o jornal “Notícias de Coimbra”, desta semana tem uma passagem no mínimo curiosa:
Já em 2015, dois dos jornais do grupo Lena (Região de Leiria e Jornal da Bairrada), um em que é sócio um dos seus administradores (Jornal do Centro) e outro que já lhe pertenceu (As Beiras) foram eleitos por Pedro Passos Coelho para participarem numa reunião privada onde discutiram os “problemas” da comunicação social regional”…
Aqui chegados não posso deixar de estranhar o que leva um Primeiro Ministro a reunir de forma privada com estes alinhados órgãos locais de comunicação social? Então não há um Secretário de Estado para apreciar esses problemas e para eles encaminhar a solução? O Ministro Adjunto e do Desenvolvimento Regional que na sua dependência tem as pastas da Administração Local e da Comunicação Social não participou na reunião?
Este é, como se diz, o tempo da “mediocracia” e parece haver quem ainda olhe para a comunicação social como os “Apocalípticos e Integrados”, título de uma obra já clássica de Umberto Eco, que, apesar da sua idade, quarenta anos, continua a ser um livro de referência na área da investigação do fenómeno da comunicação social e da chamada cultura de massas. O autor classifica de apocalípticos aqueles que vêem na comunicação e na cultura de massas uma terrível ameaça ao verdadeiro conhecimento, à verdadeira cultura; e apelida de integrados a todos aqueles que se converteram ou se submeteram a esse fenómeno, aceitando-o entusiasticamente ou, pelo menos, sem temor nem preconceitos. Não falta quem clame contra o poder excessivo que os meios de comunicação têm na sociedade, não falta quem alerte contra o perigo da dependência e da incomunicação, para o perigo do desaparecimento do diálogo e para o crescimento das dificuldades de expressão oral e escrita. E não falta mesmo quem alerte para os perigos da extinção daquilo que marcou a cultura ocidental durante séculos: o pensamento analítico, a palavra, a escrita.
Mas pelos vistos é nas reuniões privadas que estas e outras questões hoje se discutem. O poder precisa deste papel e há quem transforme isso em mero negócio de troca de favores – levas subsidio, devolves votos.
O inenarrável deputado Pedro Alves que, ainda esta semana ocupa as páginas centrais desse antigo jornal hoje transformado na voz do dono, tem disso noção e numa oca entrevista muito ao jeito da sua cabeça lá vai dizendo que não há mal por aí além em ser-se politico profissional e tem razão, onde parece haver muito mal é nos profissionais da politica como ele tenta ser, que fazem reuniões privadas com órgãos de comunicação social que aceitam a troco do “favor” trabalhar para os votos.
 
 

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Publicado em Opinião