A Aldeia

Era uma vez uma aldeia que tinha 10 habitantes. Era uma aldeia histórica, conhecida e muito bonita. Dos 10 habitantes, 7 estavam desempregados e 3 tinham emprego: trabalhavam na junta de freguesia. A taxa de desemprego era, portanto, de 70%. Uma calamidade.

  • 20:50 | Domingo, 08 de Julho de 2018
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Era uma vez uma aldeia que tinha 10 habitantes. Era uma aldeia histórica, conhecida e muito bonita. Dos 10 habitantes, 7 estavam desempregados e 3 tinham emprego: trabalhavam na junta de freguesia. A taxa de desemprego era, portanto, de 70%. Uma calamidade.

Mas nesse ano tudo mudou. Um dos amigos da aldeia arranjou emprego para 5 dos habitantes, algures numa cidade do norte. Nesse ano a aldeia perdeu 50% da sua população. No entanto, a taxa de desemprego desceu para 40%.
No ano seguinte, dado o sucesso desses 5 ex-habitantes, mais dois saíram para a mesma cidade, que ficava perto do mar. Nesse ano a aldeia perdeu 40% da sua população e a taxa de desemprego foi reduzida para 0%. Os únicos três habitantes da aldeia eram funcionários da junta de freguesia.

No ano seguinte não saiu ninguém e a taxa de desemprego manteve-se nos 0%.


Na aldeia havia uma empresa. Chamava-se “Limpa Rápido” e era do Presidente da Junta. Prestava serviços de limpeza de jardins e valetas à Junta de Freguesia e empregava um dos funcionários da junta em part-time.

No dia de Sº António, que também era dia da aldeia, o Presidente da Junta vestiu o seu melhor fato e fez um grande discurso em frente a toda a população da aldeia (duas pessoas estavam em frente a ele). Começava assim:

“Em 3 anos invertemos a perda de população, atingimos o equilíbrio e não temos desemprego. Também aumentamos o número de empresas por habitante: há 3 anos era 1 empresa por cada 10 habitantes, agora é 1 empresa por cada 3 habitantes, o que dá, 3.3 empresas por cada 10 habitantes – um crescimento de 330% que só foi possível devido à nossa política económica e de captação de empresas”.

Os funcionários fizeram um sorriso amarelo e fecharam a junta mais cedo. Não por ser feriado, mas porque não havia ninguém para atender.

O Presidente da Junta montou o seu B8 (8º burro, recentemente adquirido a um dos ex-habitantes) e lá foi fazer a ronda pela aldeia para ouvir as queixas dos fregueses e os problemas que enfrentavam. Foi uma viagem curta. Quando chegou a casa, satisfeito, apontou no seu bloco de notas: “mais um dia feliz, nem uma única queixa“.

 

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Publicado em Opinião