Neto de Moura… E daí?

    Ninguém acredita que a onomástica que a cada um respeita, desde a pia do baptismo, neste nosso católico país, seja portadora, no futuro do baptizado, de fobias ou filias. Por isso, decerto que o magistrado na “berra”, que cita e recita passagens bíblicas com mais de 2 mil anos nos seus acórdãos, no […]

  • 15:25 | Quinta-feira, 26 de Outubro de 2017
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Ninguém acredita que a onomástica que a cada um respeita, desde a pia do baptismo, neste nosso católico país, seja portadora, no futuro do baptizado, de fobias ou filias.
Por isso, decerto que o magistrado na “berra”, que cita e recita passagens bíblicas com mais de 2 mil anos nos seus acórdãos, no Tribunal da Relação do Porto, não terá dela sofrido as influências judicativas.
E se ao neles citar a Bíblia, cuja actualidade pode por alguns mais vanguardistas ser achada controversa e um nadinha anacrónica ou obsoleta, logo deita mão de outra bíblia que é o Código Penal de 1886, muito mais recente, pois só tem 131 anos e, decerto, para alguns – nem falamos dos protagonistas de “Eusébio Macário” e a “A Corja”, de Camilo, de “Os Maias” ou de o  “O Crime do Padre Amaro”, de Eça – ser de um tempo ideal como modus vivendi, por aí se espraiando numa nostalgia plácida, serena e sem abrolhos.
Num tempo de igualdade de géneros, como no “Triunfo dos Porcos”, de Orwell, uns haverá mais ou menos iguais que os outros e, a um juiz da Relação, em matérias de adultério, e recordamos aqui a sua etimologia latina, “aquele(a) que viola a fé jurada”, só muito mais tarde aparecendo como “falsificar”, e a um juiz da Relação, dizíamos, árduo há de ser o mister de destrinçar “as birras e os amuos” que geram violência doméstica e “dramas” aos quais o tribunal deve pôr fim. Mas também há aquelas temíveis e súcubas mulheres adúlteras, que num “coup d’oeil” são avaliadas como “pessoa falsa, hipócrita, desonesta, desleal, fútil, imoral”, esta ejaculatória assim lavrada, sem mesmo pejo ou temor de incorrer em crime de difamação o lavrador…
Por outro lado, e quanto à “engalhada” vítima, pondera, conclui e exara o douto magistrado que a sociedade “vê com alguma compreensão a violência exercida pelo homem traído”. Assim mesmo dito, pois a honra e a vergonha nas sociedades mediterrânicas, digo eu, nomeadamente em regiões como a Sicília, aqui ao lado, era ou é um caso de “omertà”, só a tinto sangue lavada, pois está provado ser o melhor tira-nódoas que ainda existe.
E mesmo que em virtude de uma traição – quantas mulheres foram delapidadas, mortas a tiro, esfaqueadas, até à morte chicoteadas? – o homem traído sacie sua impotente ira com uma moca de pregos, humildemente ousamos congeminar que o que está a mais no instrumento… serão os pregos, pois há estudos mais antigos que a Bíblia, e nomeadamente do tempo longínquo dos austrolopitecos, que provam ser uma boa “mocada” remédio competente para muita maleita.
Neto de Moura será nesta matéria um tudo ou nada conservador, em direito que lhe assistirá, ou por mera educação, ou por mera visão,  cingindo-se os seus detractores apenas a uma pequena mão cheia de acórdãos. Provavelmente agirá em análoga e recta conformidade quando o adúltero é o homem, embora, à luz das estatísticas de 1886, situações nesse âmbito de género descritas sejam mais raras que um morabitino de D. Sancho I, a fome no Sudão ou as imbecilidades de Donald Trump.
Só me falta esperar que algum(a) puritano(a) mais exacerbado(a) não vá achar esta minha “croniqueta” de 5ª feira uma ofensa à moral, aos géneros e aos costumes… Pela Vª rica saúde, não se vinguem em mim, pois sou oriundo de um clã matriarcal onde a mulher tinha sempre mais que sábia razão!
 

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