Amadeu foi o nome que Aquilino a si deu…

  … em obras autobiográficas como “Cinco Réis de Gente”e “Uma Luz ao Longe”, onde são narrados os anos que vão de 1885 a 1900, que o mesmo é dizer, do Carregal onde nasceu e talhou primeiras letras, ao Colégio da Lapa onde, durante meia década, “adolesceu em clausura”. O Amadeu Araújo é um dos […]

  • 16:25 | Segunda-feira, 21 de Maio de 2018
  • Ler em 3 minutos

 
… em obras autobiográficas como “Cinco Réis de Gente”e “Uma Luz ao Longe”, onde são narrados os anos que vão de 1885 a 1900, que o mesmo é dizer, do Carregal onde nasceu e talhou primeiras letras, ao Colégio da Lapa onde, durante meia década, “adolesceu em clausura”.
O Amadeu Araújo é um dos Jornalistas com maiúsculas, na arte de exercer o mester com rigor, competência, estilo, sentido crítico apurado e um domínio da LM que a quase todos falta.
Ninguém por estas bandas se lhe iguala. Tão pouco na subida arte de “ir ao osso”, num Português de lei, aprimorado, com cunho próprio, uma ressumbrante ironia e um jeito vicentino de todo arredio dos Corifeus da arte, por aí, de cangote às espaldas, amesendados.
Esteve familiarmente presente na apresentação da reedição de “O Malhadinhas”, em acerto mais que sábio entre o município barrelense e a Bertrand Editora.
Em dias destes, pouco se está com quem o merece, mais se estando com todos, porque é dia de romaria. De romaria a avoengos, sejam protagonistas ficcionados como “O Malhadinhas”, seja o escritor que o perdurou e às nossas terras, Aquilino Ribeiro. Assim, pouco falámos, o Amadeu e eu, mas notei-o presente e com a atenção de sempre.
Li-lhe a crónica que segue em seu sítio editada e requeri-lhe a permissão de a transcrever na Rua Direita. Aqui vai ela, em som do RCI e em letra lavrada:
“Ontem, no hoje que escrevo, tive um daqueles instantes raros nas vidas apressadas. O ganapo, mai-la mulher linda e eu mesmo, bebericando Loureiro e falando da vida fora, Caramulo na Ilharga e cabeça nos Vinhos da Primavera. Lembrando, no interlúdio do pó missal e antes de congeminarmos a ida ao Dão, olhávamos o mapa e efabulámos. A minha geografia, um beirão da Baixa, vivendo na Alta, com o coração no Minho e o fígado no Alentejo. Sim, arribei da outorga do ‘Malhadinhas’ à Barrelas que pressentiu no batistério “a luz ao longe” e vendo hoje essa “Via sinuosa” de quem larga lastro num filho, apurando o seu amor pátrio. Foi aí que o António Malhada se postergou e que abençoei a Sara Raquel, que lavrou sobre o “grande autor que também escreveu para pequenos… a escrita de Aquilino Ribeiro que tem na criança o seu destinatário explícito”. Ora o Afonso que ama o Minho, mas que também sabe que quem se porta mal acaba na “Casa da Roda”, vê largo. Vê os beijos apaixonados que troco com a mãe, o traz mais um cigarro e um copo de Loureiro. O Loureiro do Sarrabulho, o Loureiro de Ponte de Lima onde ajuntámos torresmos, o Loureiro dos cachos compridos e personalidade tília e a laranjeira e todos nós. Retomo o visionário que escrevia para crianças e regresso a essa rua feliz numa noite de Verão onde o petiz apendeu com o coração a geografia, e a mãe caucionou o desmando. A laranjeira da pureza, da castidade, da inocência e da fertilidade. E Aquilino é um tipo fértil. Não pela literatura, essa evidência é o somenos, mas pela fertilidade. O neto, com quem partilhei laivos de conversa, sobre as sandálias que ainda faltam gastar nestas Terras do Demo. Ou o ardil com que nos impõem decisões, como disse o autarca de Moimenta. Talvez o amor, como vituperou o alcaide de Barrelas. Na essência um tipo com quem nem me dou nem ignoro. O Carlos Santiago, edil de Sernancelhe apontou a farpa e atirou arpão. Um zagalote esperando chumbos que irradiem. Cito de cor e com assombro, “queremos que seja mais lido que admirado”. Está tudo dito neste, retomo, “povo que resiste”. Dai o passeio à nortada e ao vento que meu filho assinalou e a Anita catrapiscou… Não para recordar Camilo da familiar “Fafe, sala de visitas do Minho”, mas a romaria que é carrossel da vida e escrita de Aquilino Ribeiro que tem na criança destinatário. Um “Romance da Raposa” tornado “Livro de Marianinha”, grito de quem cansa e alcança. Aquilino lê-se, entranha-se, gaba-se e percebe-se. É preciso insistir na resistência. Para que o Cristo cá rompa sandálias, para que os energúmenos que têm a chave do progresso o compreendam e para que a pátria o respeite. Compreenda e cumpra. Retomo a citação. “Mais que lido que admirado”. E de chapéu na mão o abraço ao professor Paulo Neto, homem que explica na revista a literatura do escritor que bateu com os costados nesta prisão onde hoje, segunda-feira, celebramos o Dão. O timorato que insistiu na demanda, que proveu o feliz reencontro com a Liseta que me deu relações públicas no Liceu e o sagaz entendimento deste cronista que toma a geografia por sentimental, os políticos por regeneradores e progressistas, mas ausentes de ambão. E vossemecês, vossas graças percebestes? O legado, disse-o o neto a estes ouvidos de andar, é aqui e para isso é necessário entendimento local. O que falta aos basbaques que nos governam e que de flor na lapela são preclaros, mas insignificantes na feitoria. Precisamos de homens que matem o diabo nesta é batalha sem fim, mas onde nos espera a Maria Benigna e o pote do volfrâmio feito desejo que todos tenhamos Casa do Amparo que seja também “A Casa Grande de Romarigães”: Mais fainas e menos sorolhas. Ao briol e às canadas que ficou tudo escrito.”
 
 
(Foto DR)

Gosto do artigo
Publicado por
Publicado em Editorial