Metanoia da sociedade civil centrada nas soluções para o empobrecim​ento

À semelhança da esmagadora maioria dos portugueses, centenas de milhares de cidadãos da Beira Alta, estão hoje confrontados com os dados, irrefutáveis, mais recentes do Eurostat: O limiar de pobreza em Portugal é o mais baixo da U.E. (5040 euros anuais, ou seja, 420 euros a 12 meses, ou 360 a 14 meses).

  • 17:58 | Domingo, 01 de Dezembro de 2013
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Em boa hora, Paulo Neto converteu a Rua Direita numa lufada de ar fresco para o exercício da cidadania. Outrora a artéria mais movimentada de Viseu, hoje desertificada e degradada.

Eis que surge um espaço inovador de partilha, criação de conhecimento, liberdade de informação e opinião que são essenciais em democracia.

Façamos votos para que o paradigma libertador desta plataforma faça jus ao nome Rua Direita e que, perante as adversidades, a sociedade civil regional possa promover a identidade e coesão cultural, livre do establishment, permitindo converter massa crítica glocal em conhecimento explícito global. Desta combinação, pode emergir a externalização aberta à diversidade e ao confronto construtivo com o unanimismo regional que, não raras vezes, tem assolado os 24 municípios do distrito de Viseu.


Acedi ao convite e entendi escrever em nome de milhares de famílias que hoje se sentem confrontadas com o empobrecimento face ao desemprego ou a diminuição do seu rendimento real.

À semelhança da esmagadora maioria dos portugueses, centenas de milhares de cidadãos da Beira Alta, estão hoje confrontados com os dados, irrefutáveis, mais recentes do Eurostat: O limiar de pobreza em Portugal é o mais baixo da U.E. (5040 euros anuais, ou seja, 420 euros a 12 meses, ou 360 a 14 meses).

O empobrecimento está a alastra-se, assim como a pesada carga fiscal. Os dados do INE, referentes a 2011, indicam que 4 488 926 (quase metade do país) de portugueses se encontrariam em situação de pobreza se não fossem as transferências sociais do Estado. Ainda de acordo com o INE, em 2009, a percentagem de portugueses que seriam pobres sem qualquer transferência social era de 43,4% e em 2011 de 42,5%. A tendência prossegue.

Segundo a OCDE, os portugueses estão cada vez mais pobres relativamente aos outros cidadãos da Europa. Nos últimos cinco anos, a “locomotiva” do crescimento português tem trabalhado a “vapor”, cada vez mais longe do “comboio” europeu, que tem avançado a outra velocidade, por mais que se afirme o contrário.

Paulo Morais, ex vice presidente da C.M. Porto acabou de dar a conhecer os resultados de um estudo que mostra que 83% dos cidadãos considera que a corrupção está a crescer rapidamente e que o Parlamento, as Autarquias e os Partidos Políticos são os agentes principais desta situação.

Este caminho sinuoso, despesista, irresponsável e falacioso das últimas legislaturas conduziu o nosso país a um “napalm de extorsão fiscal” e/ou a um “tsunami”, antecedido por um “terramoto” de perda do poder de compra, em forma de espiral.

A única dúvida é, na escala de Richter, se é 7, que é destruidor; se é 8, que é devastador, face ao forte impacto que vai ter na classe média.

Temos um Estado altamente endividado, sendo que o PIB deficitário não pode ser combatido com mais subsidiação, mas antes com a criação de riqueza gerada por investimento e mudança de mentalidades por parte da sociedade civil. Só assim se conseguirá combater o “establishement”: exceções, privilégios, corporativismo sectorial, corrupção ética de uma certa elite, lóbis profissionais, políticos e sindicais.

É inevitável que a convergência social, assente na competitividade, produtividade, meritocracia e liderança colectiva, façam parte da rotina de todos (trabalhadores, empresários, políticos, etc.). Considero por isso insólito que quem ainda tem o posto de trabalho, defenda que 40 horas de trabalho por semana é trabalho forçado, quando centenas de milhares de jovens altamente qualificados se veem obrigados a emigrar por ausência de cenários optimistas e realistas.

Sabemos que não podemos continuar a gastar mais do que temos, a produzir menos do que devemos, a comprar mais do que vendemos e a “consumir” a retórica ultrapassada do mediático entretenimento político que se nos apresentam certos lideres, pertencentes a um qualquer aparelho partidário do arco do poder, que nunca criaram riqueza ou empreenderam o que quer que seja e nunca foram submetidos a qualquer avaliação da sua competência ou elegibilidade.

Porque a metanoia não se decreta, é pertinente accioná-la junto da sociedade civil amedrontada, invertendo o foco no medo, porque temos capital humano altamente qualificado e preparado para lapidar o grande diamante em bruto que está nas mãos de interesses instalados. Haja determinação para desmantelar esses interesses.

Paradoxalmente, não somos pobres. Temos é o capital todo investido em despesa. Por isso, a nossa maior pobreza reside no facto de termos pobres a mais para tanta riqueza entregue à Banca alegadamente falida.

Ocorre-me citar Mia Couto: “A maior desgraça de um país pobre é que em vez de produzir riqueza, produz ricos”.

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Publicado em Opinião