TOURO – O ENTERRO DO RICO IRMÃO

  Uma esquecida farsa carnavalesca A velha quadra carnavalesca que antigamente se estendia do Domingo da Septuagésima até ao findar da noite de Terça-feira Gorda, dias multiplicados em toadas de escárnio e gordas manducações, concentra-se agora nessa festa maior que se prolonga por três dias, as corridas de mascarados dando lugar a corsos de pesados […]

  • 13:21 | Quinta-feira, 11 de Fevereiro de 2016
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Uma esquecida farsa carnavalesca

A velha quadra carnavalesca que antigamente se estendia do Domingo da Septuagésima até ao findar da noite de Terça-feira Gorda, dias multiplicados em toadas de escárnio e gordas manducações, concentra-se agora nessa festa maior que se prolonga por três dias, as corridas de mascarados dando lugar a corsos de pesados custos e lavor que semeiam alegorias e castigam costumes, guardando por aí a entrudesca essência desse intento de trazer o equilíbrio de uma comunidade transgressora, reincidente, todavia, desde o princípio do mundo, de onde nos chega a farsa e a razão de a viver.


As páginas de jornais e as pantalhas das TV’s multiplicaram convites para a festa, mostraram até à exaustão o delírio das cores, das vozes, dos gestos, quase todos eles importados dos trópicos onde os plantáramos de raiz num tempo já distante, até que ao findar da noite anunciadora do contido tempo da Quaresma se apagassem luzes, se calassem vozes, regressassem aos amplos pavilhões os carros que haviam despejado as tais alegorias.

Dos “Chocalheiros” nortenhos foi curta a notícia no jornal e na TV, as “máscaras” de Lazarim mal passaram das ruas da antiga Vila onde agora se implanta um importante Centro Interpretativo da Máscara Ibérica. Das “lumieiras” que no Touro, Concelho de Vila Nova de Paiva, iluminaram uma noite que ainda guarda facies de Idade Média, e da vida contada de um “Rico Irmão”, esse inventado retrato das pobres vivências de cada um de nós que o desprezo de seus irmãos faz, e injustamente o faz, subir ao cadafalso, da pobreza de uma herança deixada em “Testamento”, escarninha vingança que ninguém aproveita como lição, nada se contou. Ficou por ali, o auto, nas “Terras do Alto Paiva” mal desenhadas ainda nos nossos mapas, como as “Terras do Demo” que Aquilino Ribeiro, que ali foi rei, com magro socorro de alguns, teima em erguer com alta bandeira e uma segura linha de fronteira.

E a grande festa da Primavera que as antigas ritualidades anunciavam, mundo novo onde a justiça e a concórdia e a abundância dos frutos que começava a germinar nos campos cultivados, não passa de flores de mimosa rebentadas cedo na margem das estradas, leves na duração, pomares floridos aqui e além, ovelhas pastando numa mancha da serra, e o pão e a paz e a justiça que ainda tarda, tantos Entrudos passados. E as amizades traídas, entre irmãos!…

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