Queijadas de S. Pedro (Manjar de Carapito)

Carapito, populosa freguesia do Concelho de Aguiar da Beira, tem pergaminhos de história como poucas outras povoações de Portugal. Município de provecta origem, título perdido no decurso do segundo quartel do século XIX, reserva desse passado de honra o seu pelourinho como memória, entre outras, como as impressivas construções solarengas e essa singular traça dos […]

  • 11:22 | Sexta-feira, 05 de Maio de 2017
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Carapito, populosa freguesia do Concelho de Aguiar da Beira, tem pergaminhos de história como poucas outras povoações de Portugal.

Município de provecta origem, título perdido no decurso do segundo quartel do século XIX, reserva desse passado de honra o seu pelourinho como memória, entre outras, como as impressivas construções solarengas e essa singular traça dos arruamentos antigos, do Terreiro, da Praça, do Arrabalde cujo casario, ainda que desgastado, reserva como que uma estranha presença dos moradores antigos.

Singular, sobremaneira, essa impositiva presença de construções dolménicas de aparato, como a velha Casa da Moura, cujas desmesuradas dimensões a tornam única na Península.


De tradições ainda se vive e apenas a uma nos referiremos hoje, manjar da gastronomia local por muitos anos dito como único em seu género, que irmão tem mais longe e ao qual outro nome foi dado, fálgaros, na pequena povoação da Tabosa dita do Carregal, no Concelho de Sernancelhe, enquanto por aqui permaneceu a feminil designação de queijadas acrescentadas dos determinativos que as ligam ao berço, Carapito, ou ao concreto tempo de uma comensalidade festiva que acontece no dia de S. Pedro de Verona, 29 de Abril.

Perde-se no tempo a origem, diz-se por lá. Restam as memórias das avós e as linhas que ficaram como explicação da confecção, as empíricas informações sobre o modo de fazer, a selecção cuidada das matérias-primas, a comensalidade como desígnio maior.

Farinha de trigo cultivado nas várzeas, moída nos moinhos locais, à antiga, hoje substituída pela comercial farinha “Branca de Neve”, ovos de galinhas caseiras que garantem a desejada coloração de um vivo amarelo da fornada, e queijo de cabra, ou queijo de ovelha, ou a mistura de ambos e essas medidas de incertas tabelas e depois o acto de amassar, esse miúdo saber de mulher, esse cerrado bater de um punho fechado para apurar a massa, esse precioso saber do tempero de sal, esse tempo medido que nem relógio batendo, o curto repouso no alguidar antigo esperando que o forno atinja a temperatura ajustada e depois esse terno acto de gerar o pequeno bolo que pousará no ferro da pá que o levará ao forno. Depois uma hora de espera, e o jeito de uma mão de mulher batendo o lar quente da queijada e o pousar delas na brancura de uma toalha de linho pousada sobre tabuleiro.

E a mesa posta. É pão e vinho. É mesa de Páscoa, mesa de Natal, mesa de família, de vizinhos, de amigos, mesa de festa, mesa de partilha. Cristã mesa de partilha.

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