O Resineiro Especial

    Quando li, na Notícias Magazine, um artigo que dava a conhecer como é o dia-a-dia dos «novos» resineiros no pinhal, fui assaltado por uma imagem que há muitos anos permaneceria guardada nas minhas memórias de criança. O meu pai, infelizmente não está entre nós há quase duas décadas, trabalhou, desde os 12 anos […]

  • 12:41 | Quarta-feira, 06 de Julho de 2016
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Quando li, na Notícias Magazine, um artigo que dava a conhecer como é o dia-a-dia dos «novos» resineiros no pinhal, fui assaltado por uma imagem que há muitos anos permaneceria guardada nas minhas memórias de criança.


O meu pai, infelizmente não está entre nós há quase duas décadas, trabalhou, desde os 12 anos nos campos de arroz de Alfarelos, nas estufas de morangos; foi padeiro, pedreiro, funcionário da Deutsche Post e resineiro. Um verdadeiro homem dos sete ofícios, um trabalhador exemplar e sempre disponível para arregaçar as mangas e enfrentar um novo desafio.

Não estando as diversas ocupações ordenadas cronologicamente, deixei a de resineiro para o fim porque, ao saber que os antigos resineiros voltaram ao ativo e a sangrar os pinheiros, recordei com muitas saudades a imagem do meu pai com os utensílios em riste, pronto para entrar na floresta e resinar.

Recordo-me perfeitamente de o ver sair com o ferro de renova; a raspadeira, o pulverizador e as calças muito marcadas pelo ácido utilizado para acelerar o processo de libertação da resina.

Um trabalho árduo  realizado por homens e mulheres, cabendo a estas retirar dos púcaros o líquido pegajoso e viscoso para uma lata de colha que era transportada à cabeça até aos bidões que seguiriam depois para a fábrica.

Portugal já foi o maior exportador da Europa e o segundo maior do mundo.

Ao que parece, depois da crise que quase fez desaparecer o setor, a indústria volta a apostar na extração da resina que pode ser utilizado em múltiplos produtos, da alimentação à cosmética.

Além de um possível impulso à atividade económica do país, esta atividade tem outras vantagens não negligenciáveis, desde logo a criação de emprego; a fixação de população nas zonas rurais e no interior do país; a vigilância da floresta e a redução dos materiais combustíveis. Os resineiros, ao permanecerem nas matas ao longo do ano, tornam-se os seus vigilantes ativos e permanentes. Podem ser precisos do ponto de vista da prevenção também porque, para acederem aos pinheiros e executarem as tarefas inerentes à resinagem, os matos têm que ser limpos regularmente, não permitindo a acumulação de vegetação que se torna altamente inflamável em casa de incêndio.

A resinagem merece um olhar atento e carece de alguns incentivos que estimulem uma aposta forte na imperiosa combinação da tradição com a inovação.

Sangrou muitos pinheiros para alimentar a família, o meu “RESINEIRO ESPECIAL”!!!

 

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Publicado em Opinião