O nosso problema é com o futuro!

Nas ultimas décadas andamos a destruir as nossas hipóteses de um futuro melhor, hipotecando de forma irresponsável a vida das novas gerações. É algo indesculpável, e que tenho a certeza será objeto de dura crítica na década de 20 e 30 do século XXI apontando o dedo ao péssimo trabalho que fizemos. Gastamos de forma […]

  • 10:00 | Quinta-feira, 01 de Maio de 2014
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Nas ultimas décadas andamos a destruir as nossas hipóteses de um futuro melhor, hipotecando de forma irresponsável a vida das novas gerações. É algo indesculpável, e que tenho a certeza será objeto de dura crítica na década de 20 e 30 do século XXI apontando o dedo ao péssimo trabalho que fizemos.
Gastamos de forma irresponsável numa ideia mirífica de que faltavam infraestruturas de todo o tipo. E foi uma festa de investimento público massivo, e nada razoável, em vias de transporte, infraestruturas educativas, de saúde, desportivas, sociais, culturais, lúdicas, etc., sem cuidar dos seus custos de manutenção e de um plano de utilização futura. Criamos um monstro de custos fixos só para manter toda essa panóplia de equipamentos a funcionar. Para além disso, como não havia dinheiro para tudo inventamos esquemas engenhosos de ir buscar dinheiro ao futuro, e colocar as gerações, ainda não nascidas, a pagar os investimentos irresponsáveis de hoje. Nasceram as Parcerias Público-Privadas e com isso retiramos ao futuro a capacidade de decidir e mudar a sua sina.
Mas mais. Criamos necessidades, inventando estatísticas, para que certos projetos se tornassem essenciais e com isso se gastasse muito do dinheiro de fundos estruturais para resolver esses problemas fictícios. No processo as populações foram prejudicadas e existem casos em que até perderam o pouco que tinham e que apesar de não ser ótimo cumpria uma função social e económica.
Com tudo isto, desde 1989, acumulamos uma dívida monstruosa que neste momento é superior a 212 mil milhões de euros, e que cresce anualmente porque somos incapazes de fechar cada ano económico sem deficit orçamental.
Ou seja, em resumo, criámos dívida, muita dela baseada em custos fixos dos maus investimentos que fizemos, e gastamos dinheiro em obras de que não precisávamos e que não somos capazes de manter. Obras que não criam valor, que não ajudam a criar valor e que não reforçam as potencialidades nacionais. Ou seja, resultado de más decisões.
Para suportar tudo isto, foram subindo os impostos e inventada uma infernal máquina fiscal que desincentiva a atividade económica e aniquila a capacidade empreendedora. As apostas de longo prazo, o incentivo à família, à poupança, ao investimento produtivo, à criação de emprego, etc., em suma todas as iniciativas com impacto a médio e longo prazo foram sendo sucessivamente removidas porque fomos sendo geridos na emergência do curtíssimo prazo.
O drama está em perceber que neste cenário ficamos sem o essencial: as pessoas mais qualificadas e que criam oportunidades. Era, e continua a ser, essencial que tivéssemos sido capazes de dar motivos a essas pessoas para que decidissem ficar em Portugal. Deveria ter sido esse o nosso objetivo: o essencial não eram, nem são, medidas de curto prazo, tipo tapa-olhos, que aparentemente incentivam o emprego qualificado (e precário). Os países antes de espaços políticos e económicos são a sua população, pelo que o essencial teria sido formar pessoas qualificadas e garantir que ficavam em Portugal. A sua insatisfação, inquietude, conhecimento e capacidade empreendedora, devidamente apoiada e acarinhada, fariam o resto. A questão nunca foi saber se essas pessoas ficavam ou se iam embora, mas antes quais as condições e quais os argumentos que éramos capazes de apresentar para que elas decidissem que Portugal vale a pena. Um país envelhecido, endividado, sobredimensionado, desequilibrado para o litoral, assimétrico, e sem pessoas que criam oportunidades tem um sério problema com o futuro.
Inverter esta situação era e continua a ser urgente. Será criminoso desperdiçar o novo quadro comunitário.
 

(Publicado no Diário As Beiras de 1 de Maio de 2014)


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Publicado em Opinião