O "Mourinho das Beiras"

Julgo que não será motivo de espanto se alguém afirmar que Viseu e os viseenses não têm tido sorte no que toca aos seus representantes políticos.

  • 10:12 | Quarta-feira, 21 de Fevereiro de 2018
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Julgo que não será motivo de espanto se alguém afirmar que Viseu e os viseenses não têm tido sorte no que toca aos seus representantes políticos. Por um lado, a sociedade civil mobilizada e responsável é reduzida e por outro lado, os partidos abocanham todo o espaço público. Dos Clubes às Associações Desportivas, na mão de Jotas e ex-Jotas; dos Bombeiros às IPSS tomadas por velhos caciques; eles (partidos e suas gentes), quais vampiros, comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada. Não vale a pena tentar enumerar casos concretos, nem quem vos escreve teria espaço e nem o leitor paciência para tal triste lista nominal. As excepções honrosas são raras. Assim, sem grandes hipóteses, a má fortuna na hora de eleger é, portanto, uma inevitabilidade local.

O exemplo acabado da mediocridade cacique que reina em Viseu, é, sem sombra de dúvida, o deputado Pedro Alves. Para quem desconhece a evidência, este deputado antes de o ser já tinha um percurso turvo para os lados de Nelas. Como a ambição comanda a vida, com os compromissos partidários criados lá se conseguiu eleger para São Bento. Chegado à capital, desconhecido e com um CV pobrezinho e uns episódios de baixas psiquiátricas pelo caminho, ninguém dá por ele até ao dia em que decide ligar-se à rede e começar a destratar o então treinador do Sporting Clube de Portugal. Depois dessa triste cena volta ao anonimato geral. Continua a tratar da vidinha, crescendo dentro do PSD Viseu ao mesmo tempo que produz rigorosamente zero em prol do distrito que o elegeu. Mas sabem como a natureza humana não falha e todas as manhãs, olhando-se ao espelho, acredita que é um predestinado, que é o “Mourinho da Política”.

Chegado a 2018, o nosso estimado cacique, encontra em Rui Rio a melhor hipótese para se impôr em Lisboa. Desenvolve uma estratégia, faz uns telefonemas, arrebanha aqui uns seguidores, ali uns leitões amaros, monta uns esquemas, finta Almeida Henriques, e ganha o distrito para Rio. Política com p pequeno, como verá à frente, é só nisto que o bom do Alves é bom.


Acreditando que chegou o momento da consagração e munido de ambição desmedida, apanha o IP3 e segue para Lisboa, debaixo do braço leva uma “Moção para o Interior“.
Já no congresso, confiante, sobe ao palco. Está certo do sucesso. Nada pode falhar. Já ninguém o segura. É agora Alves, vai-te a eles! Um, dois, três, som. Microfone ok. Começa o discurso e o ruído na sala aumenta de tom. Não há problema. Faz uma piada seca (um cangalheiro até pode ser um Mourinho, mas ser um Seinfeld já era pedir muito) e começa tudo de novo. Os congressistas não se calam, não há respeito. Terceira tentativa, o povo social-democrata, desinteressado pela figura levanta-se, e deixa o velho Alves a falar sozinho.

Está confirmada a primeira derrota da noite, e o pior, está em todos os canais de tv. Mas não há stress, a vergonha já se perdeu faz uns largos anos e o objectivo principal está intacto. O lugar de Secretário Geral ia muito bem com o nosso Alves. As cadeiras mexem-se, há fila à porta para braço direito de Rio, Alves está na fila e por lá ficará…..

Irritado, ainda no congresso fala daquilo que sabe: há Negociatas&Tachos no PSD do Dr. Rio, isto não pode ser assim, temos de enviar um sinal para o interior, não é por ele é pela região!

Tendo lhe sido passado um atestado de mediocridade pelos restantes militantes do partido (alguém se recorda de outro político que tenha sido deixado a falar sozinho?); tendo sido posto de lado pelo actual líder do seu partido (não há um lugar para quem mais militou em favor da causa em Viseu), o que resta a Alves? Para já, um lugar de fundo de fila e a continuação da total irrelevância em Lisboa e, claro, caso lhe reste um pingo de dignidade assumir que conduziu mal a distrital de Viseu e colocar o seu lugar à disposição de uma alma competente. Mas não lhe façam ainda o enterro, o nosso Alves vive e sobrevive da política.

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Publicado em Opinião