O discurso antidemocrático de Cavaco

  Cavaco Silva dirigiu-se ao país para anunciar que tinha decidido indigitar Passos Coelho na sequência da vitória da coligação nas eleições de 4 de outubro. Esta decisão é aceitável e perfeitamente natural. Todavia, já o conteúdo da fundamentação utilizada para justificar a sua opção foi abusivo e uma falta de respeito para com as […]

  • 18:15 | Domingo, 25 de Outubro de 2015
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Cavaco Silva dirigiu-se ao país para anunciar que tinha decidido indigitar Passos Coelho na sequência da vitória da coligação nas eleições de 4 de outubro. Esta decisão é aceitável e perfeitamente natural. Todavia, já o conteúdo da fundamentação utilizada para justificar a sua opção foi abusivo e uma falta de respeito para com as regras de equidade de um Estado democrático.

Assim, acompanho aqueles que afirmam que, do ponto de vista democrático, o discurso do Presidente da República foi de grande gravidade e inaceitável. Um discurso de insulto à democracia. E de insulto à democracia, porque as palavras do Presidente foram sectárias, de exclusão e de ameaça.


Que equilíbrio, serenidade e moderação se podem encontrar nas palavras do Presidente quando afirma que uma parte significativa dos portugueses não pode ter acesso ao poder político?

É legítimo que o Presidente da República faça exclusões e diga quem são as forças políticas que podem e devem governar?

É normal que um Presidente diabolize forças políticas democraticamente eleitas e que exclua alternativas de governabilidade à esquerda?

É aceitável que o Presidente tenha exercido uma pressão sobre o Partido Socialista (PS), faça chantagem e tente condicioná-lo e condená-lo a um entendimento perpétuo só com os partidos de direita, ostracizando a CDU e o BE e recusando uma alternativa?

Impedir uma alternativa de governabilidade à esquerda é aceitar que as soluções de governo têm de ser sempre as mesmas. É o assumir de uma posição autoritária e contaminada por um forte preconceito político e ideológico.

O discurso do Presidente da República foi, assim, um discurso agressivo, crispado e de fricção, que tentou limitar a possibilidade de alternativa e de liberdade dos parlamentares. Assistimos a um discurso que tentou deliberadamente e por opção ideológica esquecer e ignorar que quem pode e deve governar é quem tem uma maioria no Parlamento.

Deste modo, espero que o Presidente da República resista a um comportamento de facção e à tentação de segurar o PSD no poder, optando por um Governo de gestão. É que este cenário criará instabilidade e colocará o país em suspenso, penalizando-o duramente.

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Publicado em Opinião