Liti(gi)o

Hoje o Público leva à estampa uma boa entrevista a Alexandre Lima, geólogo e investigador na Universidade do Porto sobre a prospecção (estudos para conhecer o que existe na litosfera) e os alarmismos a ela associados que se têm manifestado nomeadamente na nossa região, onde estão concessionadas um conjunto de áreas para pesquisa.

  • 17:26 | Domingo, 04 de Agosto de 2019
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Hoje o Público leva à estampa uma boa entrevista a Alexandre Lima, geólogo e investigador na Universidade do Porto sobre a prospecção (estudos para conhecer o que existe na litosfera) e os alarmismos a ela associados que se têm manifestado nomeadamente na nossa região, onde estão concessionadas um conjunto de áreas para pesquisa. Quem quiser e puder que a leia que não perde tempo.

Alexandre Lima tenta esclarecer o que está, nesta fase, em causa. Tenta fazer o que o Governo há muito devia ter feito de forma mais eficaz para reduzir medos que, em grande parte, me parecem advir do natural desconhecimento existente e da desconfiança latente que grassa relativamente a quase tudo o que vem do Terreiro do Paço. Esclarecer a população, divulgar sem limites, os planos de prospecção existentes, organizar acções de esclarecimento e sensibilização com a presença de membros do governo, autarquias e organismos públicos com intervenção na área, como a Direcção Geral de Energia e Geologia ou a Agência Portuguesa do Ambiente, por exemplo, redimiriam em parte receios e suspeitas, algumas legítimas, e evitariam que se explorasse a ideia de que algo está a ser escondido das populações e que, fruto da prospecção de recursos geológico o mundo está para acabar.

Quer-me parecer que o tradicional fogo de artifício e os sistemas sonoros cada vez mais potentes que inundam todas as localidades nacionais terão muito mais impacto do que a prospecção que agora se anuncia mas, vá-se lá saber porque razão, não há movimentos para acabar com essa prática que é nefasta para a natureza J


Numa fase posterior, se for o caso porque são mais as campanhas de prospecção que não redundam em exploração que o contrário, a exploração de recursos terá obviamente impactos (qual é a actividade humana que não tem? Não é a Natureza um jogo de equilíbrios entre impactos que todos os terráqueos criam?), mas estamos dispostos, enquanto sociedade, a viver de forma a não criar qualquer impacto significativo na natureza? Não me parece e, portanto, resta-nos reduzir impactos ao máximo possível.

O que me parece incoerente é à Segunda-feira pedir o fim dos veículos a combustíveis fósseis e à Terça ser contra a exploração de alternativas. É igualmente dissonante lutar afincadamente contra práticas ambientais desastrosas e, depois e simultaneamente, querer que os recursos que consumimos e de que necessitamos (para comunicar e nos deslocarmos a qualquer manifestação ambientalista que exista na região, por exemplo) sejam explorados, lá longe, no além, sem qualquer tipo de controlo ambiental, ao contrário do que aqui acontece. Isto quando sabemos de forma indesmentível que vivemos num planeta/sistema fechado onde todos os actos e seus efeitos são (mais tarde ou mais cedo) globais. Sabemos que em potência um bater de asas de borboleta em Canas de Senhorim pode provocar um tufão em Macau (e o Carlos Melancia nem sequer mora cá) ?

E discutir caso a exploração mineira avance, dentro dos parâmetros acima descritos, como deve ser feita a repartição dos proveitos financeiros? Serão eles públicos ou privados? Na possibilidade de haver extração de que forma serão distribuídos os lucros? Será aplicado o já costumeiro e doentio centralismo, ficando o local de exploração com os impactos negativos e a parte de leão dos benefícios na “capital do império” e em meia dúzia de capitalistas já podres de ricos? É que se é para aplicar a receita que leva à desertificação humana e financeira de grande parte do país, se é para acentuar desigualdades sociais e geográficas, nestas regiões sucessivamente desprezadas, realmente é melhor não se fazer grande coisa. Já que o centralismo é tão caro, ele que se aplique (ainda mais ferozmente) mas, desta feita, que epicentro seja a origem do recurso e não Lisboa e sejam os cidadãos que habitam estes territórios os seus beneficiários.

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Publicado em Opinião