Imoral

Aquilo que se passou e está a passar no BES/GES/BANCO BOM/BANCO MAU é uma enorme vergonha e exige um esclarecimento urgente e cabal, apurando responsabilidades a todos os níveis e seja de quem for. É isso que eu gostava de ter ouvido da boca do Primeiro-Ministro e da Ministra das Finanças: seremos implacáveis na procura […]

  • 19:30 | Quinta-feira, 07 de Agosto de 2014
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Aquilo que se passou e está a passar no BES/GES/BANCO BOM/BANCO MAU é uma enorme vergonha e exige um esclarecimento urgente e cabal, apurando responsabilidades a todos os níveis e seja de quem for. É isso que eu gostava de ter ouvido da boca do Primeiro-Ministro e da Ministra das Finanças: seremos implacáveis na procura da verdade, tornaremos pública toda a informação relativa a este desastre que nos obrigou, à ultima hora e num fim-de-semana, a fazer o seguinte:
1. Usar 4.4 mil milhões de euros do vosso dinheiro (dinheiro público, do Estado, que pedimos emprestado e do qual estamos a pagar juros altíssimos desde que fomos resgatados em meados de 2011): sensivelmente tanto dinheiro como aquele que gastamos por ano, em vosso nome, em Educação;
2. Desdizer tudo aquilo que vos andávamos a dizer há semanas, senão meses, garantindo que os problemas do GES eram independentes do BES, que tudo ia bem no BES, que a almofada financeira de 2.1 mil milhões era suficiente para todo o crédito mal parado e imparidades, que os problemas do GES não eram suficientes para colocar em causa a credibilidade e confiança na banca portuguesa e no seu sistema financeiro, que o que se sabia era insuficiente para afastar de imediato Ricardo Salgado da administração e do conselho estratégico, que o Estado não ia necessitar de resgatar o BES, que os testes (para os quais inventam nomes estranhos) de stress provavam a solidez do banco, que o aumento de capital do BES que tinha o título sugestivo de “Participe no FUTURO” (grande futuro tiveram os pequenos acionistas que perderam tudo) era um bom investimento, etc.
3. Acionar uma solução de recurso porque fomos apanhados (enganados, disse o Governador do Banco de Portugal) pelo desmoronar catastrófico dos últimos dias de vida do BES – nos quais um banco com 150 anos foi chacinado (ficando a valer 12 cêntimos por ação e pouco mais de 600 milhões de euros) em bolsa porque apesar de todos os erros, e de verificar a saída em massa de depositantes, não fomos capazes de perceber que devíamos suspender as ações e parar para pensar – que fez com que o BCE fechasse a torneira e nos deixasse sem alternativas. Tivemos de inventar, à pressa, uma solução via Fundo de Resolução, que não tinha dinheiro e portanto tivemos de emprestar 90% do valor necessário, dividindo o Banco entre BOM e MAU, protegendo os contribuintes e depositantes, esquecendo os pequenos acionistas, os quais acorreram ao aumento de capital fazendo fé na informação que lhes era dada pelo BES e autorizada pelo Banco de Portugal e CMVM, e praticando atos duvidosos que se configuram em coisas parecidas com confisco, etc.
Pelo meio fica a sensação de que ninguém assume nenhuma responsabilidade pelo facto de tudo isto, que é IMORAL e uma vergonha sem limites, passar despercebido e de sermos incapazes de o detetar porque se movimenta em offshores, usando todo o tipo de contabilidades paralelas em paraísos fiscais mas também, o que é mais grave, uma rede gigantesca de conivências e silêncios, de participações cruzadas em administrações, de gente que se cala e se esquece, que não assume a responsabilidade de representar a causa pública e o bem de todos. É uma vergonha: os prejuízos do BES passaram de 200 milhões para 3.6 mil milhões em pouco mais de um mês, com 4.3 mil milhões de custos de imparidades.
Se eu fosse Primeiro-Ministro estaria envergonhadíssimo de ver que nesta época do tudo online e computorizado, e depois de tudo e todos terem andado a garantir que tudo ia bem, afinal todos foram enganados por um esquema fraudulento montado por um banqueiro e que esse engano custava (para já) 4.9 mil milhões. Não sei se conseguiria de novo usar a palavra confiança.

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Publicado em Opinião