Global mas não igual

  Se é verdade que o mundo globalizado trouxe vantagens para o Homem, não é menos verdade que o Homem não tem sabido contornar os riscos dessa mesma globalização. O mundo global, de partilha e de maior comunicação política, económica, científica, cultural, não pode significar imposição ou maior hegemonia de uns países sobre os outros. […]

  • 11:41 | Domingo, 19 de Abril de 2015
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Se é verdade que o mundo globalizado trouxe vantagens para o Homem, não é menos verdade que o Homem não tem sabido contornar os riscos dessa mesma globalização.

O mundo global, de partilha e de maior comunicação política, económica, científica, cultural, não pode significar imposição ou maior hegemonia de uns países sobre os outros. É que a ideia e a prática de que as grandes decisões naqueles domínios são externas aos cidadãos de um País e de um Estado têm afastado as pessoas da participação na coisa pública. Existe um sentimento de impotência face à realidade estrutural, que tem morto o espírito crítico e de iniciativa. Também a prática governativa que maioritariamente nos tem dominado a nível mundial, baseada num modelo de pensamento neoliberal e excessivamente pragmático, tem contribuído para uma domesticação dos indivíduos. Basta lembrar, a título de exemplo, a primazia dada aos valores utilitários e hiperracionais, como sejam a competitividade, a eficácia, a eficiência, a produtividade, a qualidade, entre outros.


O facto de este discurso demasiado tecnocrata e empresarial dominar as relações entre os indivíduos aniquila e faz “tábua rasa” de qualquer diferença, impedindo a problematização, pois é intolerante à crítica, pretendendo evitar qualquer tipo de reflexão.

Caímos, deste modo, na despolitização do mundo, das pessoas e das instituições. E, por isso, encontramos expressões como “isto não é comigo, é com os outros”, “não tenho nada a ver com isso”. Expressões que, no mínimo, são absurdas, uma vez que expressá-las é negar a essência gregária do Homem e equivale à morte da Democracia.

Também a contradição entre o que as instituições que enquadram a organização social e politica têm para oferecer e as expectativas dos indivíduos tem concorrido para uma indiferença destes face à vida social. As organizações tendem a garantir o discurso da estabilidade, a adoptar posições que levam a remediar as situações, sendo conduzidas com pouca transparência. Contudo, os cidadãos esperam propostas originais e suficientemente diversas, anseiam por mudança, soluções novas e inovadoras e transparência na orientação das actividades do agir humano.

Esta hierarquia das necessidades, desejos e valores, que tem pautado a sociedade globalizada e que aparentemente se esforça por criar um ambiente de conforto e de bem-estar, tem retirado poder reivindicativo, de contestação e de crítica aos indivíduos. Na verdade, se a pessoa está bem, porque tem de se incomodar, aborrecer ou lutar seja pelo que for? A realidade demonstra que é mais difícil animar aqueles processos cognitivos quando os tempos são mais abastados, de abundância ou de riqueza.

Assim, nestas situações os compromissos e as causas costumam rarear…

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Publicado em Opinião