Disruptivo

Depois de na edição de 2017 o diácono Cossgrave ter transformado, com o beneplácito de Lei e da Grei, o Panteão numa mera sala de jantar, brindou-nos para a edição deste ano com uma “inovação” que até Aquilino Ribeiro, em repouso, trocaria por alguma agitação tumular.

  • 11:47 | Terça-feira, 14 de Agosto de 2018
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Nada me move contra a WebSummit ou contra quem lá vai pelas mais diversas razões. Já a excitação imberbe por parte de quem apoia e tudo permite é coisa para irritar muita gente.

Muitos dos seus frequentadores, espécie de crentes da Igreja Universal do Empreendedorismo, que vende uma novel fé, 2ky, nessa religião como o remédio para tudo e todos, também deverão ser defensores de um dos mais importantes pilares económicos – a lei da oferta e da procura. No fundo sonham desenvolver e produzir produtos para uma miríade de utilizadores, que todos querem, que todos compram, que todos frequentam, para ficarem de carteiras bem recheadas.

Depois de na edição de 2017 o diácono Cossgrave ter transformado, com o beneplácito de Lei e da Grei, o Panteão numa mera sala de jantar, brindou-nos para a edição deste ano com uma “inovação” que até Aquilino Ribeiro, em repouso, trocaria por alguma agitação tumular.


Ao que parece foi feito um convite à líder da extrema direita francesa, Marine Le Pen, para oração aos fiéis. Eu, longe de ser contra censuras e castrações que, normalmente, só favorecem quem fica impedido de dizer barbaridades e sabendo os dislates que este energúmeno normalmente bolsa, digo que, já que o convite foi feito, venha. Venha lá a atávica fascista. Venha para todos vermos de que massa, de que princípios é feita esta Igreja e a fé dos seus discípulos.

Esperemos para ver quantos irão manter a sua fé e comparecer na empreendedora eucaristia, quantos irão pagar o seu dizimo e comprar a Websummit. Veremos se são mais arreigados ao desejo gregário de se juntar a uns quantos bem sucedidos empreendedores (julgando talvez que por um mágico passe osmótico serão tocados por um Midas e se transformarão em ouro) ou a valores democráticos que lhes permitem ter o poder de decidir muita coisa e tentar outro tanto (disparates incluídos). É que se julgarem a liberdade, a opinião, a igualdade de oportunidades, etc., como valores maiores, mais importantes, dirão ao diácono que não compram o produto que este lhes quer vender, demonstrarão, que não toleram estar presentes com quem brada contra eles. A bem do seu futuro e até da religião que professam seria isto o mais óbvio a fazer. Se o sacerdote não vê o óbvio era bom que os crentes lho fizessem sentir.

Além do mais como é que se tolera a incongruência de na “Meca” das startups vir orar alguém cujo o “negócio” – velho, caduco, hipócrita, demagógico e que comprovadamente “vende gato por lebre” – é uma coisa de família e lhe foi legado pelo paizinho?

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Publicado em Opinião