COISAS ESTRANHAS…

  Há coisas muito estranhas:   Ouvir o Ministro da Cultura, João Soares, por quem tenho estima, a fazer eco dos protestos que exigem mais investimento e outra política para a cultura, a pasta que o próprio tutela, é, no mínimo, estranho. No máximo, João Soares talvez ainda não se tenha investido, efetivamente, do cargo […]

  • 12:17 | Segunda-feira, 14 de Março de 2016
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Há coisas muito estranhas:

 


Ouvir o Ministro da Cultura, João Soares, por quem tenho estima, a fazer eco dos protestos que exigem mais investimento e outra política para a cultura, a pasta que o próprio tutela, é, no mínimo, estranho. No máximo, João Soares talvez ainda não se tenha investido, efetivamente, do cargo de ministro da nação, neste caso concreto, da cultura. A não ser que a política cultural tenha um rosto, o de João Soares, e outros pensadores que a gizam, talvez intelectuais da esquerda à esquerda do PS, os “verdadeiros” guardiões da cultura em Portugal, nada justifica este desencontro entre a teoria e a prática.

 

O senhor Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Rocha Andrade, usou dois argumentos, a meu ver muito frágeis, para justificar o aumento do imposto sobre os produtos petrolíferos: “o desincentivo à utilização do veículo individual de transporte ou o incentivo à utilização de veículos mais eficientes”.

Talvez fosse mais honesto dizer que são necessárias mais receitas e que esta via é a que garante, mais fácil e rapidamente o urgente encaixe dos imprescindíveis milhões de euros…

 

O clímax das coisas estranhas foi atingido com o apelo do Ministro da Economia, Caldeira Cabral, ao civismo dos portugueses:

“Deixo um apelo para que as pessoas evitem fazer isso [ir abastecer a Espanha], porque no fundo estão a pagar impostos a Espanha em vez de pagarem a Portugal, mesmo tendo um desconto. Penso que por civismo é de pedir às pessoas para que evitem fazer isso”.

Não discuto o seu conceito de civismo, mas não compreendo como um homem com a sua responsabilidade possa ser tão ingénuo…

Se o senhor ministro ouviu os automobilistas portugueses, que estavam a abastecer em postos de combustível espanhóis, certamente já se deu conta da sua atoarda. Atestar um camião da TIR do lado de lá da fronteira pode significar uma poupança de até 300,00€.

O civismo dos automobilistas não pode ser posto em causa quando tentam poupar alguns euros para tornar o orçamento familiar suficiente.

Ter um carro é hoje um luxo!

Cada automobilista é uma “galinha dos ovos de ouro” para os cofres do Estado.

Assim, de repente, o proprietário de um carro paga, aquando da aquisição Imposto Sobre Veículo (ISV) e, obviamente, IVA. Para circular paga um seguro (com IVA) e o Imposto Único de Circulação (IUC), se sair da sua área de residência tem muito provavelmente que pagar portagens, tem que abastecer o carro (boa parte do valor a pagar diz respeito ao imposto sobre produtos petrolíferos). Em qualquer cidade, para estacionar tem que pagar!

Por fim, quando a máquina tem que ir à oficina, ao valor a pagar pelas reparações também acresce o valor do IVA em vigor. Há ainda as revisões periódicas obrigatórias…

Das duas uma, ou o senhor Ministro assume que foi um erro de comunicação ou deve pedir aos assessores que lhe façam uma lista de todos os produtos a não comprar em Espanha.

Quanto à mensagem, deverá ser qualquer coisa como “Quem compra em Espanha não é bom pai de família”.

Quanto a mim, porque quero dar um exemplo de civismo, nas minhas idas ao país vizinho, que vou, obviamente, evitar, já decidi que vou levar uma marmita com comida e algumas bebidas, não ousarei tocar, nem por sonhos, numa tapa ou bebericar um La Rioja…

Hoje, comprei dois jerricans, já estão a imaginar para quê…

Cada vez que viajar para fora do país, sigo o provérbio “quem vai para o mar avia-se em terra” e o conselho do ministro e levo a mala do carro cheia de combustível. Cada gota de gasóleo comprado em Portugal, com impostos pagos em Portugal, contribuirá para que me torne um cidadão melhor, um exemplo de civismo a seguir.

 

 

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Publicado em Opinião