Análise otimista

O dia 4 de Outubro é importante para o futuro. Mais do que um dia de escolhas, é um dia de manifestação de confiança na nossa capacidade de resolver, em democracia e em liberdade, os problemas que nos afetam, reforçando assim a esperança de construir o país que desejamos. A decisão do voto exige, por […]

  • 11:11 | Sexta-feira, 02 de Outubro de 2015
  • Ler em 4 minutos

O dia 4 de Outubro é importante para o futuro. Mais do que um dia de escolhas, é um dia de manifestação de confiança na nossa capacidade de resolver, em democracia e em liberdade, os problemas que nos afetam, reforçando assim a esperança de construir o país que desejamos. A decisão do voto exige, por isso, muita reflexão, uma grande capacidade de se isolar do ruído mediático e das tentativas de engano, mais ou menos evidentes, de forma a permitir perceber o que está em causa. E o que é que está em causa?
Em primeiro lugar, está em causa o dever de votar. Os estudos de opinião apontam para taxas de abstenção muito acima dos 40%, o que significa que 2 em cada 5 eleitores não vão votar. Era importante que este número fosse significativamente inferior, pois quem não vota deixa que as decisões sejam tomadas por minorias. Basta ver que, com uma abstenção dessa ordem de grandeza, se uma força política obtiver 45% dos votos e, portanto, tiver maioria absoluta no parlamento essa votação equivale a 27% dos eleitores: uma minoria, portanto. Acresce que uma abstenção de 40%, por exemplo, é suficientemente elevada para permitir que decisões sejam tomadas por minorias, mas não é suficientemente alta para poder ser entendida como uma posição política relevante e lida como tal. Será sempre desvalorizada em nome de outros interesses.
Em segundo lugar, está em causa a avaliação da Governação dos últimos 4 anos. É importante que se faça essa avaliação, se verifique o que foi prometido, o que foi efetivamente feito, qual a atitude que foi adotada na relação com os cidadãos, como foi explicada, ou não, a quebra de compromisso eleitoral, qual o exemplo que foi dado, que rumo seguimos e quais foram os resultados obtidos. Em 2011, depois de 6 anos de Governação socialista, tínhamos um país falido, endividado, sem rumo, sem opções, com desemprego crescente, incapaz de controlar as suas contas, incapaz de colocar os melhores à frente dos destinos do país, em suma, um país encostado às cordas, de joelhos, desacreditado no exterior e incapaz do projeto mobilizador que os políticos foram sucessivamente prometendo desde 1974. O esforço imposto aos Portugueses desde então e em nome da recuperação do país, pela maioria PSD/CDS que hoje se denomina coligação “Portugal à Frente”, teve como vetores essenciais o aumento da carga fiscal, cortes nos salários e nas pensões, diminuição do Estado Social, cortes no Serviço Nacional de Saúde e na Educação, aumento do risco de pobreza e exclusão social, efeitos que foram muito para além dos previstos no memorando da Troika. Para além disso – e apesar de alguns resultados positivos que permitiram estabilizar o país e sair de uma situação de eminente bancarrota e dependência financeira imediata do exterior – Portugal não conseguiu diminuir a sua dívida pública, a qual, pelo contrário, subiu gradualmente até valores superiores a 130% do PIB; viu a dívida privada atingir níveis alarmantes; falhou as metas do défice orçamental a que se comprometeu (estando sucessivamente sob alçada de mecanismos de défice excessivo por parte da comissão europeia, o que aparentemente voltará a acontecer em 2015 tendo em conta os dados conhecidos sobre a execução orçamental – défice de 4,7% do PIB no 1º semestre para um objetivo de 2,7% no final do ano); não exerceu como devia a função de regulação do sistema financeiro e da economia, o que provocou terramotos como o BES e a PT; privatizou à pressa e sem critério mesmo em áreas cujo interesse nacional exigia outra ponderação; permitiu o crescimento selvagem da máquina fiscal, confundindo eficiência da administração tributária com procedimentos inaceitáveis num Estado democrático e de direito; não reformou o Estado e não resolveu a crónica relação perniciosa entre interesse público e privado que tem matado toda a esperança num futuro melhor.
Em terceiro lugar, está em causa avaliar as propostas das várias forças políticas concorrentes e as equipas que as podem realizar. Apesar de a campanha eleitoral ser, de uma maneira geral, uma manifestação primária e acéfala de mensagens curtas com o objetivo de desinformar e conduzir através de sound bites, é imperioso que os cidadãos procurem a informação e confrontem o que é proposto num exercício de reflexão calmo e fundamentado. Desta vez, e mais uma vez, os eleitores serão impelidos a escolher o mal menor, conduzidos por uma lógica bem delineada pela sabedoria popular no dizer: “P’ra melhor está bem, está bem, p’ra pior já basta assim”. Apesar de tudo, atrevo-me a recomendar reflexão.
Em quarto lugar, está em causa avaliar a sinceridade (verdade), a ética e o risco colocados na elaboração de projetos políticos de futuro. É isso que permitirá alguma esperança. Francisco Sá Carneiro dizia sabiamente que a “a política sem risco é uma chatice, mas sem ética é uma vergonha”, mas Miguel Torga era bem mais eloquente: “A política é para eles uma promoção e para mim uma aflição. E não há entendimento possível entre nós, apesar do meu esforço. Separa-nos um fosso da largura da verdade. Radicalmente insinceros, nenhum pudor os inibe. Mentem com tal convicção que se enganam a si próprios, e acabam por acreditar que são o que fingem ser. Levam-se a sério no papel de homens providenciais que dão ordem à desordem, virtude ao vício, luz à escuridão. Que outorgam a liberdade apenas a nomeá-la do alto das tribunas. E nem consigo fazê-los compreender que representam sem originalidade uma farsa velha como os tempos, e que os aplausos que recebem já os outros os receberam, igualmente inconsequentes e requentados. Narcisos numa sala de espelhos, confirmam-se em cada imagem multiplicada. A circunstância não os circunstância. Pelo contrário. Vaticina-lhes a duração. O efémero é um anátema dos outros. Vêem na presença actual do nome nos jornais a garantia de perpetuação nos anais da história”.
Procure a informação, confronte, avalie e decida. Não se deixe influenciar, muito menos pelo medo ou pela chantagem. E, por favor, vote!
 
(Diário As Beiras de 2 de Outubro de 2015)

Gosto do artigo
Publicado por
Publicado em Opinião