Cavaquices

    Depois de uma merecida, muito oportuna e longa viagem à ilha da Madeira, hoje a Presidência da República divulgou, e bem, um documento que entregou ao Secretário-Geral do Partido Socialista numa audiência que teve lugar em Belém. Nesse documento Cavaco exige conhecer um conjunto de coisas sobre um futuro governo de esquerda e […]

  • 14:26 | Segunda-feira, 23 de Novembro de 2015
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Depois de uma merecida, muito oportuna e longa viagem à ilha da Madeira, hoje a Presidência da República divulgou, e bem, um documento que entregou ao Secretário-Geral do Partido Socialista numa audiência que teve lugar em Belém. Nesse documento Cavaco exige conhecer um conjunto de coisas sobre um futuro governo de esquerda e quer que todos os portugueses saibam das suas preocupações. Aquando da recente indigitação de Passos Coelho e do nado morto governo tais preocupações não estiveram em cima da mesa. Nada que surpreenda em Cavaco.


 

O homem da rodagem do Citröen provou, mais uma vez, que nunca pretendeu ser presidente de todos os portugueses mas apenas dos que votam no partido do qual é militante. Manifesta preocupações que julga que lhe são exclusivas a si e à coligação PàF, o que não é verdade. Cavaco diz querer “uma solução governativa estável, duradoura e credível”, mas escolheu indigitar Passos Coelho sabendo de antemão que este governo iria durar uns estáveis e credíveis 11 dias.

 

A grande novidade hoje é que Cavaco afirma que tem dúvidas. O homem que sempre nos garantiu “nunca se enganar” teve um daqueles “raros” momentos onde tudo não lhe é claro. O “providencial presidente”, que sacrificou a presença nas celebrações do Dia de Implementação da República, para estudar todos os cenários, não vislumbra o que fazer e então quer que o esclareçam sobre:

a) Aprovação de moções de confiança;
b) Aprovação dos Orçamentos do Estado, em particular o Orçamento para 2016;
c) Cumprimento das regras de disciplina orçamental aplicadas a todos os países da Zona Euro e subscritas pelo Estado Português, nomeadamente as que resultam do Pacto de Estabilidade e Crescimento, do Tratado Orçamental, do Mecanismo Europeu de Estabilidade e da participação de Portugal na União Económica e Monetária e na União Bancária;
d) Respeito pelos compromissos internacionais de Portugal no âmbito das organizações de defesa colectiva;
e) Papel do Conselho Permanente de Concertação Social, dada a relevância do seu contributo para a coesão social e o desenvolvimento do País;
f) Estabilidade do sistema financeiro, dado o seu papel fulcral no financiamento da economia portuguesa.
Tudo questões importantes, é certo, mas que estarão seguramente mais na cabeça de Costa e do Partido Socialista, do que na de Cavaco, que continua olimpicamente a ignorar o que a maioria dos portugueses escolheu e não suporta que eles tenham escolhido, com ele a Presidente, coisa diferente da sua preferência. Tudo questões que não exigiu a Passos há menos de um mês atrás. Tudo questões que, se houver má fé e uma forma manigante de agir, tão características a Cavaco, podem ser respondidas por meia dúzia de linhas cheias de nada.

Cavaco não lhe restando por culpa própria outra alternativa, engonha. Com isto aproxima-se dum final de mandato de forma miserável, a mesma com que come bolo-rei em público. Faz Portugal perder tempo e exige respeito pelos compromissos internacionais, sendo o único responsável pelo não cumprimento dos mesmos. Se hoje não há um orçamento aprovado – condição que considera fundamental para dar posse a Costa – o único responsável é ele.

Exigir clarificação sobre moções de confiança é a expressão máxima do ridículo e corresponde a querer que partidos políticos vistam um cinto de castidade ideológica para todo o sempre o que, de certo modo, os impediria de se fiscalizarem mutuamente em prol do que prometem ao eleitorado. É o primado da partidocracia sobre a democracia, tão cara ao Cavaquismo e ao seu totem.

Cavaco, sempre Cavaco e as contradições e incoerências. Hoje exige a Costa clarificação sobre a estabilidade do sistema financeiro, quando ontem promoveu e apoiou (e vamos fazer de conta que não negociou acções da SLN) gestores que deram uma machadada decisiva no que agora afirma ser fundamental que outros demonstrem.

Felizmente tudo acaba e Cavaco, por mais que esperneie, está acabado. As consequências da sua acção política irão, para nosso prejuízo, perdurar por mais uns anos.a)

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Publicado em Opinião