O “Campanário”, jornal paroquial

  Saiu o número 1 do jornal “Campanário”. Propriedade das paróquias de Nacomba, Arcozelos, Baldos, Vilar, Barragem e Toitam, da diocese de Lamego e dos concelhos de Moimenta da Beira e Sernancelhe. Tem como director o Pe. Ricardo Barroco. Jovem, interventivo, competente e dinâmico. O Pe. Ricardo pediu-nos colaboração no seu estimado periódico. Colaboração essa […]

  • 13:20 | Terça-feira, 31 de Março de 2015
  • Ler em 2 minutos

 
Saiu o número 1 do jornal “Campanário”. Propriedade das paróquias de Nacomba, Arcozelos, Baldos, Vilar, Barragem e Toitam, da diocese de Lamego e dos concelhos de Moimenta da Beira e Sernancelhe.
Tem como director o Pe. Ricardo Barroco. Jovem, interventivo, competente e dinâmico.
O Pe. Ricardo pediu-nos colaboração no seu estimado periódico. Colaboração essa em torno de Aquilino Ribeiro.
Esta postura é nova e desassombrada. O clero mais arreigadamente conservador nunca terá perdoado a Aquilino ser filho do Pe. Joaquim Francisco Ribeiro, pároco à época no Carregal onde o escritor nasceu às 13 horas do dia 13 de Setembro de 1885. Não lhe perdoaram também algum do seu agnosticismo e pseudo anti-clericalismo.
Aquilino tem muitas obras dedicadas à hagiografia. Muitos títulos a vida de santos se referem. “O Livro do Menino Deus” é a mais exemplar prova disso. Era um coleccionador avisado de arte sacra. Basta ir a Soutosa…
A sua “madrinha”, ele o refere, era a Nossa Senhora da Lapa, que tão bem descreve em “Uma Luz ao Longe”. Teve bons amigos padres. Exemplifico apenas com o cónego Manuel Fonseca da Gama, pároco de Barrelas, a quem prefaciou “Terras do Alto Paiva”, que aqui parafraseio:
A Serra é agreste, primitiva, mas tem carácter, sem dúvida. Comprazes-te em pintar-lhes as virtudes e encantos sem sombras, e não serei eu que te acoime de parcial. As tintas escuras são para os novelistas e tens razão. Decerto que eu, ao chamar-lhe Terras do Demo, não quis designá-las por terras do pecado, porque o pecado seja ali mais grado ou revista aspecto mais especial que não tenha algures. Nada disso. A Serra é portuguesa no bem e no mal. Chamei-lhe assim porque a vida ali é dura, pobrinha, castigada pelo meio natural, sobrecarregada pelo fisco mercê de antigos e inconsiderados erros e abusos, porque em poucas terras como esta é sensível o fadário da existência. Só por isto.
Pelo teu excelente livro (…) eu te agradeço, saúdo e abraço.”
(Lisboa, Natal de 1940).
 
 
 
O anti-clericalismo de Aquilino é mais uma má vontade criada por alguns inimigos da República e fanáticos cegos do conservadorismo incréu dos homens, parcos na leitura e apoucados no saber. Como rotularíamos então Camilo Castelo Branco, por mero exemplo? Felizmente há quem diferentemente o veja, numa nova geração de pastores da Igreja.
Saúdo o “Campanário” a quem desejo longa e saudável existência. Saúdo o Pe. Ricardo Barroco pelo seu saber e ausência de preconceitos infundamentados. Saúdo os seus paroquianos pelo padre que têm.

Gosto do artigo
Publicado por
Publicado em Editorial