Dia de mentiras?

Não. Os restantes 364 dias do ano tiraram-lhe esse estatuto paródico que levou, por exemplo, a rapaziada da JS Viseu a emitir um comunicado parabenizando Almeida Henriques pelos muitos postos de trabalho criados. Evidentemente que o autarca tem criado alguns postos de trabalho, é inegável. Porém, sem justiça nem mérito, para os seus apaniguados, que […]

  • 19:21 | Quarta-feira, 01 de Abril de 2015
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Não. Os restantes 364 dias do ano tiraram-lhe esse estatuto paródico que levou, por exemplo, a rapaziada da JS Viseu a emitir um comunicado parabenizando Almeida Henriques pelos muitos postos de trabalho criados. Evidentemente que o autarca tem criado alguns postos de trabalho, é inegável. Porém, sem justiça nem mérito, para os seus apaniguados, que assim se apaziguam. O pão e a paz convivem bem. Talvez por isso, o imenso Cossery escreva: “Apenas a fome desencadeia revoltas. Como quer fazer uma revolução, se tiver de assinar letras para comprar um carro?
Em “Os Homens esquecidos de Deus“,  (só a sisifiana capa vale o dinheiro) no conto “O barbeiro matou a mulher”, escreve a certa altura acerca do aparelho repressivo: ” O guarda Gohloche personificava a maldade mais detestável: a maldade posta ao serviço dos grandes da terra. Uma maldade paga. Já não lhe pertencia. Tinha-a vendido a gente mais competente que a usava para subjugar e mortificar todo um povo miserável.”
O que aconteceu nas eleições na Madeira mostra como se perde e ganha uma maioria na “secretária”. Conjecturalmente poderemos pensar que sempre foi assim ou pior, mas a máquina bem afinada dos “guardas Gohloches” não deixava transpirar nada cá para fora. Miguel, o Albuquerque-laranja não tem a “coisa” bem oleada… Ainda não teve tempo ou intenção, no benefício da dúvida que merece. Uma vergonha “somaliana” a dar enfâse ao epíteto de República das (tão saborosas) bananas.
Hoje, enfim desde Fevereiro aguardado, recebi o derradeiro e polémico livro de Michel Houellebecq, “Submissão” (da Alfaguara). Começa por citar Huysmans (muito a propósito convertido do Satanismo ao Catolicismo) com mordaz ironia e, alerta-nos, cautelar: “A liberdade de expressão é a liberdade de comunicar uma obra do espírito a outro espírito.” Este livro tem um enredo desenrolado em Paris, no ano 2022. Vão decorrer eleições presidenciais. Os franceses estão um pouco saturados da governação da Front National e votam no novo partido Fraternidade Muçulmana… Depois… é ver como se passam os alegóricos (ou não) modos de vida impostos pela nova cultura (?)…
Escrevem na contracapa que se trata de “uma fábula política e moral surpreendente…” E se não for?
 
Andei hoje pelo Senhor dos Caminhos. Haverá melhor santo para um viandante sem rumo? Corri ao lado do Vouga numa coleante e magra lentidão, há pouco ainda saído da fonte na Lapa. Subi à Fraga e lembrei Frei Joaquim de Santa Rosa de Viterbo, aí sepultado, aquele que foi o autor do primeiro dicionário português o Elucidário, em dois gordos tomos, desta penitente personagem, sapiente e protagonista de alguns extractos aquilinianos.
Deleitou-se com a letra “A” num longuíssimo primicial volume. Sentindo a morte perto, de uma assentada, entre o Convento da Lapa que reitorou e o Convento da Fraga que escolheu como terra do fim lavrou as restantes 22 letras do alfabeto…
O mesmo acontece com a maioria dos homens pouco convictos da efemeridade e finitude humanas. Apenas quando entrevêem o fim se dão conta do pouco que andaram e do muito que deixaram por fazer, adregados, num encosto cálido, ao acessório, muito superficialmente cuidando do essencial.
Tempus fugit, meus caros… E a Quaresma pode servir-nos para pensarmos que raros são os eleitos à ressurreição ou, “aqueles que por obras valerosas se vão da lei da morte libertando“.

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