Acima de tudo Portugal ou o patrioteirismo de Coelho?

  O advérbio é a palavra que modifica o verbo, o adjectivo ou outro advérbio. “Acima” é um advérbio de lugar. “De” é uma preposição essencial que faz a ligação entre “acima” e “tudo” visando aumentar a clareza discursiva. “Tudo” é um pronome indefinido invariável. Um pronome substitui o nome. “Tudo” é uma totalidade afirmativa […]

  • 0:01 | Quinta-feira, 26 de Março de 2015
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O advérbio é a palavra que modifica o verbo, o adjectivo ou outro advérbio. “Acima” é um advérbio de lugar.
De” é uma preposição essencial que faz a ligação entre “acima” e “tudo” visando aumentar a clareza discursiva.
Tudo” é um pronome indefinido invariável. Um pronome substitui o nome. “Tudo” é uma totalidade afirmativa e opõe-se a “nada”, criando uma oposição de sentido. Os pronomes indefinidos são ainda palavras que se referem à terceira pessoa do discurso, dando-lhe sentido vago (impreciso) ou expressando quantidade indeterminada.
Portugal” é um substantivo próprio.
A frase não tem verbo que nos dá o movimento. Pode subentender-se o verbo estar. Acima de tudo está Portugal. Mas tudo é o quê? Portugal está acima dos portugueses? E se ao que parece assim é, qual a lógica discursiva inerente?
Já em tempos (2009) apareceu um cartaz do PSD Mangualde, com a figura do inefável candidato Soares Marques que, ao lado direito de Deus dizia:
Acima de Mangualde, SÓ DEUS
Ver aqui…
No caso em epígrafe, o que se entenderia era um slogan deste tipo:
Acima de tudo os portugueses. E aqui referir-se-ia a uma entidade mais concreta e socialmente palpável num acto elocutivo de cariz social. Quando colocamos Portugal, a pátria, a nação acima de tudo, estamos a usar o mesmo tipo de discurso de, por exemplo, a extrema-direita francesa de Marine Le Pen. Sem dúvida muito patriótico, muito nacionalista, mas a esquecer que a pátria é uma espécie de continente que tem no seu conteúdo os portugueses.
Porém, obviamente que o PSD de Coelho nunca poderia usar tal slogan, e por isso refugiou-se num abstracção inquestionável para fugir ao concreto duvidoso. Pelos vistos e para Coelho, Portugal é importante mas sem portugueses.
Esta “ideia-refúgio” é cínica e absolutamente indefinida. Logo é um slogan duplamente falhado e taxativamente igual a toda a sua política, durante estes quatro anos lesivamente implementada. Portugal, claro, não se queixa. Só os portugueses.
O patriotismo é, grosso modo, o sentimento de amor e devoção à pátria, aos seus símbolos como a bandeira, o hino, o brasão. Em consequência, pode-se pressupor que para Coelho, acima de tudo, dos seres humanos, estão os símbolos abstractos. Assim, perante esta clara opção ideológica, Coelho deve ir à bandeira, ao hino e ao brasão pedir os votos para a “requerida” maioria eleitoral, em Outubro próximo. Porque Coelho não refere os portugueses, não tem nada a ver com eles, aos mais jovens manda-os sair de Portugal, aos de meia-idade afoga-os em angústias e sacrifícios e aos mais velhos dita-lhes a morte lenta, asfixiados de impostos, sem SNS que lhes valha e sem esperança num futuro que os sustente.
Está certo. Portugal é importante. Tão importante que está “acima de tudo”.
Tudo“, quantificavelmente e na sua totalidade afirmativa, são os portugueses. Para Coelho, um “nada”, logo quando “O Futuro é Agora” (como se dizia outrora). E não foi…
E para concluir, uma ideia com a qual, sensatamente, imensos portugueses concordarão:

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