A MUTABILIDADE URBANA E O AUTARCA DO SÉCULO XXI

Se a mutação é um processo evolutivo e/ou regressivo normal, a mutabilidade é uma mutação acelerada, em alguns casos, vertiginosamente acelerada. Partamos deste concreto paradigma: Viseu, o concelho, apesar do forte recuo demográfico que se tem acentuado na região, cresceu na última década de 80 para 100 mil hab. Não por natalidade mas por migração […]

  • 11:42 | Quinta-feira, 12 de Dezembro de 2013
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Se a mutação é um processo evolutivo e/ou regressivo normal, a mutabilidade é uma mutação acelerada, em alguns casos, vertiginosamente acelerada.
Partamos deste concreto paradigma:
Viseu, o concelho, apesar do forte recuo demográfico que se tem acentuado na região, cresceu na última década de 80 para 100 mil hab. Não por natalidade mas por migração oriunda dos concelhos circundantes em busca de uma vida melhor, com consequente desertificação das áreas de origem. Os novos residentes, ao ficarem na periferia, mais acessível, deslocalizam os pólos habitacionais de Viseu para além do já existente, agravado o facto por uma população residente no núcleo urbano envelhecida e empobrecida. A principal artéria da cidade, a Rua Formosa, de acordo com uma análise feita por um periódico local, tem hoje 12 residentes. O resto é comércio resistente, bancos, escritórios e consultórios. Ou seja, um cenário de movimentação relativa e diurna.
Daqui podemos inferir algumas realidades e equacioná-las com um conhecimento da realidade europeia e até global, nalguns itens.
1ª realidade: A demografia –» em 2030 1 em cada 4 pessoas, na Europa Oc., terá mais de 60 anos. Esta realidade nova carece imperiosamente de um olhar novo;
2ª realidade: O conhecimento e o desenvolvimento tecnológico ganham força e importância desiguais;
3ª realidade: Surge uma nova economia –» a do conhecimento e estabelece-se o conceito de que as ideias são bens transaccionáveis;
4ª realidade: O surgimento de um poder novo, o poder do cidadão, em redes de pertença e de colaboração;
5ª realidade: O novo poder não é controlável pelos governos tradicionais;
6ª realidade: Com a evolução vertiginosa do conhecimento, ele torna-se efémero, levando à emergência de um novo conhecimento –» o da adaptabilidade;
7ª realidade: A crescente importância das cidades e o aumento de poder dos governos locais. Tal carreia um pensar diferente e uma mudança estrutural da economia;
8ª realidade: Hoje não é importante ser maior. É-o ser melhor. Por isso, há que investir na sustentabilidade e inovação social;
9ª realidade: Interpretar e entender a cidade, hoje, como Academia, no valor etimológico do termo e conceito, capacitada para uma profunda regeneração social. Hoje, a cidade é um cluster. A cidade tem que se apresentar como paisagem criativa. Uma cidade que produz e gera cultura (não a reproduz), entendendo-se até que é a cultura que faz a cidade. Aposta na matéria cinzenta, hoje geradora de mais riqueza que a matéria-prima;
10ª realidade: A requalificação para a criação de novos espaços de atractividade a partir da recuperação e regeneração do existente. Gerar a atractividade da rua emparceirada com residentes, investidores, visitantes, estudantes e trabalhadores. Há uma identidade, é imperioso criar uma imagem e passa-la para fora como marca, com um marketing novo, atraente, estimulante, chamativo sem recorrer ao cosmético e/ou maquilhagem como decoração do já existente. Pensar profundamente o que já existe e adaptá-lo às novas realidade e às suas exigências, com base no conceito de que desenvolver é sempre melhor que crescer. A cidade é um produto. A cidade é um destino. A cidade é uma marca. Deve pois:
Fomentar clusters de inovação;
Criar ambientes empresariais amigáveis do empreendedorismo;
Investir em educação, formação e aprendizagem contínua;
Desenvolver infra-estruturas de investigação;
Ter uma agenda digital para a região;
Promover interna e empenhadamente as indústrias culturais e criativas;
Gerar indústrias criativas…
Para concluir, repensar e projectar hoje a cidade não é tarefa para amadoresesclarecidos e apaixonados, mas sim para artistas inquestionados. Refiro aqui o “artista” enquanto profissional de reconhecidíssimo mérito nacional e até internacional, no domínio da sua arte: a engenharia urbana, a arquitectura e demais mesteres ligados aos novos desígnios da criatividade e sustentada inovação urbana.
Um artista genial não pode ter preço porque a sua obra pode ser substracto gerador de atractividade e riqueza para o presente e para o futuro.
A ideia não pode ter preço porque as suas consequências podem ser a essência da vitalidade e da qualidade de um território.
O autarca do século XXI, enquanto decisor qualificado e esclarecido, ao ter em mente que o seu território será aquilo que decidir fazer dele, ao depender da sua competência e criatividade, ao resultar da sua capacidade de saber ouvir o artista – no mais amplo sentido da palavra – fará dele e da obra que dele resultar, exemplo e paradigma do autarca do futuro.

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