Cesteiro que faz um cesto…

(Textos ilustrativos de um antigo viver rural nas margens de Viseu ilustrados com imagens de arquivo de Foto Germano) Cesteiro que faz um cesto, faz um cento. Ditado popular Os ditados populares valem o que valem. E o cesteiro que logo de manhã se senta no seu banco armado com o ferro de lavrar no […]

  • 13:29 | Segunda-feira, 05 de Maio de 2014
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(Textos ilustrativos de um antigo viver rural nas margens de Viseu ilustrados com imagens de arquivo de Foto Germano)

Cesteiro que faz um cesto, faz um cento.

Ditado popular


Os ditados populares valem o que valem. E o cesteiro que logo de manhã se senta no seu banco armado com o ferro de lavrar no preparo das corras, as delgadas tiras de madeira de castanho, de mimosa, de sanguinho ou os vimes do ribeiro e que depois tece, pousando-as no colo, as vergas já macias da madeira, faz de cada obra que constrói obra primeira, que isso nos diz o olhar atento da mulher que na tenda da feira escolhe aquele que melhor lhe convier.

Vieram de Nandufe, me parece, as cestas que a vendedeira pousou, jeito de banca, no chão de terra da Feira de Ano do Loureiro*. Isto a ajuizar pela presença repetida da amieira, uma cesta avantajada afeita ao trabalho do campo e da casa, inseparável, eu diria, do dia a dia da mulher, um curioso modelo que se reconhece porque o seu fundo se levanta como quilha de barco e porque a asa se prende no elegante entrecruzar das vergas do seu corpo (entrecruzas) e que, sabemos, vem de muito longe o modelo, que já o encontrámos num dos quadros de Grão Vasco, leva-a na mão Nossa Senhora e é para ela que José colhe uns frutos maduros na viagem que fazem, de exilados, de Belém para o Egipto. E essa, eu sempre disse, foi feita em Vildemoinhos, pertinho de Viseu, onde há poucos anos morreu o último cesteiro.

Na tenda da feira vê-se uma outra cesta, dita vareza em certas partes da Beira. Tecida com verga miúda, com excepção da asa, podia medir-se com ela o grão nas eiras de Agosto, na altura das malhadas, alqueire a alqueire. Nela se joeirava, ao vento, o milho painço, a nabinha e os feijões, podia levar-se dentro dela roupa da família ao tanque de lavar, e lá ia muitas vezes à cabeça de mulher, sino a dar conta do meio-dia, com o jantar dos homens que andavam a cavar.

Vidas inteiras expostas, com verdade, na textura de uma cesta, no terreiro aberto de uma feira!…

* – Feira de S. Bartolomeu, a 24 de Agosto, em Loureiro de Silgueiros.

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