Maria de Jesus – Tecedeira de ofício

Maria de Jesus Gonçalo Chaves é natural de Várzea de Calde onde nasceu no dealbar da década de quarenta do século passado. É tecedeira de ofício e exerce o seu mester na Casa da Ribeira. Aprendeu com sua avó, em pequenina, brincando com os pentes, os novelos, o rodar do caneleiro na envoltura do tear, […]

  • 9:51 | Quinta-feira, 05 de Junho de 2014
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Maria de Jesus Gonçalo Chaves é natural de Várzea de Calde onde nasceu no dealbar da década de quarenta do século passado. É tecedeira de ofício e exerce o seu mester na Casa da Ribeira.

Aprendeu com sua avó, em pequenina, brincando com os pentes, os novelos, o rodar do caneleiro na envoltura do tear, o rabo do olho no trabalho da avó. E logo que os pés puderam chegar às apeanhas, estava já, ela nos disse, pronta para tecer. Era ainda adolescente. Aprendera sem querer.

Andou na escola onde fez, ainda menina, o exame da terceira. Não fez mais, que o pai lavrava terras e havia, na família, sete filhos para criar.


Veio à cidade, os nove anos mal feitos, acompanhar o pai de carrejeiro, vacas mansas devagar, as rodas do carro a chiar e os rachões de pinho vendidos à freguesa que os esperava no Rossio.

Quando cresceu “foi resineira”, se assim posso chamar a esse demorado caminhar, pinheiral fora, a “lata da resina” pesando sempre mais com a “colha” feita, ela e as companheiras iludindo, verão fora, o cansaço a cantar.

No inverno era tecedeira. Panos de linho, de estopa mais grosseira, panos de lã. Panos de toalhas que, às vezes, eram encomenda para altar, panos de lençol onde as donas bordavam monogramas, mantas de burel tecidas aos quadrados, cobertas de “firmas” ornadas com desenhos e colchas de lã dobrada batidas com as quatro apeanhas.

Os quefazeres do linho a todos conheceu do tear à sementeira. Os cantares do arranque, os cantares das maçadeiras, das mulheres a tascar, dos serões levados a fiar. E os cantares de romaria que se cantavam em Setembro mas idas e vindas da Santa Eufémia de Cepões. E os romances cantados pela estrada fora, e a saudade dos ranchos que vinham à Feira Franca de Viseu.

E a quarta classe que fez, já crescida.

E a Casa da Ribeira onde é já tecedeira há vinte e cinco anos. Tempo bastante que daria para ter ao peito uma medalha.

Já não canta, agora, diz-nos ela. Só na Igreja. Ao Domingo. Ou no mês de Maio e de Maria. Mas está feliz. Que a vida ela a sente carregada de memórias. E sorri como se tivessem sido felizes todas as memórias.

Disse-me que está linda a Casa da Ribeira. E eu lhe agradeço o seu apreço. E as histórias que tão generosamente me contou.

Bom trabalho, Maria de Jesus!…

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