Cavalhadas de Vildemoinhos – A festa dos Moleiros

Nesse lendário ano de 1652 que a tradição fixou como ano fundador das Cavalhadas, Vildemoinhos era uma terra de moleiros por mais que hortas houvesse a deslado do casario para além do qual se estendiam as quintas do Cabido, da Mitra e da fidalguia. Havia também cesteiros de verga, primorosos, tecedeiras e as padeiras com […]

  • 22:45 | Quarta-feira, 18 de Junho de 2014
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Nesse lendário ano de 1652 que a tradição fixou como ano fundador das Cavalhadas, Vildemoinhos era uma terra de moleiros por mais que hortas houvesse a deslado do casario para além do qual se estendiam as quintas do Cabido, da Mitra e da fidalguia. Havia também cesteiros de verga, primorosos, tecedeiras e as padeiras com o governo do pão para a cidade. E havia uma velha Capela onde se venerava S. João. Mas labor certo, labor quotidiano, era o de moer o pão, dos moleiros afadigados, das madrugadas para entrega da farinha, do regresso com o grão e o rodízio dia e noite girando sobre a vigília e o sono em sobressalto.

Mas houve um dia, por ocasião de um seco verão, em que os lavradores das hortas a montante talharam com açude a água da Ribeira para impedir os seus frutos de morrer. Sobem a pedir contas os moleiros, seca a veia de água que fazia girar as suas mós e diz a tradição de uma contenda que as justiças do lugar não puderam dirimir.

E foi ao Rei que subiu tal contencioso, razões de parte a parte apresentadas só para requerer pertença duradoura da água corrente da Ribeira. E enquanto se demoram na espera da sentença requerem os moleiros a protecção do Céu e vão de fazer voto ao patrono S. João que, ano a ano, enquanto o mundo fosse mundo, o povo dos moleiros iria em dia da sua festiva romaria dar as três voltas costumadas à Capela que ele tinha na Quinta da Carreira já bem perto das nascentes da Ribeira.


Ouviu o Santo a petição e quis o Rei, não sabemos se inspirado pelo Céu, dar aval ao que fora requerido pelos moleiros.

Na festiva noite houve arraial, abriram-se os açudes e ouviu-se outra vez o correr da água e o girar das mós, enfeitaram-se de canas as carroças da farinha, alegres colgaduras cobriram os jaezes dos muares, mascararam-se os moleiros de senhores e ao cantar dos galos, no romper da madrugada, um mar de gente de que se ouvia ao longe o vozear, cumpria a tal promessa a vez primeira.

Trezentos anos há muito são passados. Gastaram as águas da Ribeira muitas mós. Cumpre-se a promessa por sagrada que assim pediram os moleiros a seus filhos. E, ano por ano, os Mordomos que levam a bandeira e conduzem o cortejo nos caminhos da cidade, seguem eles só, seguem a cavalo, dão as três voltas costumadas à Capela, cumprem, assim, piedosos, a promessa. Cumprem-se outra vez as Cavalhadas.

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