CAVALHADAS DE VILDEMOINHOS

  AS TRÊS VOLTAS DOS MORDOMOS À CAPELA   Será sempre festa maior o dia de S. João, em Vildemoinhos.  Foi promessa da gente nesse tempo antigo em que quase todos eram moleiros, promessa lavrada com palavra de honra de trambelo e hoje se cumpre. E a memória maior de tal festa sentida é sempre […]

  • 22:36 | Segunda-feira, 22 de Junho de 2015
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AS TRÊS VOLTAS DOS MORDOMOS À CAPELA

 


Será sempre festa maior o dia de S. João, em Vildemoinhos.  Foi promessa da gente nesse tempo antigo em que quase todos eram moleiros, promessa lavrada com palavra de honra de trambelo e hoje se cumpre. E a memória maior de tal festa sentida é sempre o singular Cortejo das Cavalhadas que neste luminoso dia de solstício de Verão, dia do patrono S. João Baptista, sobe à cidade onde um mar de gente de olhar deslumbrado pode rever essa saborosa estória mitificada pela memória dos homens que durante muito tempo não teve registo escrito – a eterna história dos laboriosos moleiros que reivindicam, como seus pares, os campónios que cultivam a montante as hortas da Ribeira, a água escassa dos anos secos de Verão. Vaga lembrança tardiamente reconstruída rememora uma promessa, o voto colectivo desse marginal povinho de moleiros feito a S. João, não o vizinho patrono dessa histórica Capela de S. João Velho que ao tempo havia, mas o da Capela de S. João da Carreira, uma légua a montante, crentes que o milagre dali nasceria, que outras graças ali haveriam de ter visto obrar ao Santo nas festivas idas de romeiros tabeladas no calendário como conta o Cura das Memórias Paroquiais em 1758. Ao Santo deveram direitos de partilha de águas e ei-los cumprindo o voto enquanto o mundo for mundo – as três voltas que os Mordomos e o Alferes da Bandeira correm à volta da Capela na mística manhã, poética e festiva, antes que o corso se desenrole na caminhada propícia que atravessa a urbe, as palmas chovendo sobre as canas armadas nos carros antigos, sobre a feérica construção das alegorias novas que as máquinas movimentam, sobre os cantos da gente e as danças que de longe nos vêm mostrar. E meu louvor desce sobre estes homens e mulheres que cumprem, dadivosos, a herança dos avós, que rompem, noite fora, muitas noites, entregues à inventiva construção dos carros que depois se revelam como espelho dos mundos, o real, o da fantasia, que programam as ritualidades da festa votiva, do pinheiro que arde, cinzas de rosmaninho que se espalham na orvalhada com a aragem da manhã. E o meu louvor desce sobre esse último gesto há pouco acontecido, a bênção do restaurado altar da capela de S. João, à Carreira onde, ano a ano, conforme o prometido, um voto se cumpre através da cavalgada que desdobra ao vento essa antiga bandeira, símbolo da honra e do trabalho, nas três voltas de homenagem ao Santo eternamente celebrado como augusto padroeiro.

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