Quelha da Lapa: Há 520 anos a ‘certificar’ pecados do povo!

Mas, narrativas e imaginários à parte, o Santuário de Nossa Senhora da Lapa continua a ser, fruto do trabalho dedicado e profícuo de tantas e tantos crentes e amantes da cultura da sua terra, um dos principais locais de culto de Portugal.

  • 9:19 | Sábado, 08 de Setembro de 2018
  • Ler em 2 minutos

Não, não remonta a 1917. Esse é o santuário de Fátima.

Não, não remonta a 1858. Esse é o santuário de Nossa Senhora de Lourdes, no sul de França.

Não, não remonta a 1531. Esse é o santuário de Nossa Senhora da Guadalupe, no México.


Sim, remonta a 1498. Trata-se do santuário de Nossa Senhora da Lapa, localizado no concelho de Sernancelhe, diocese de Lamego.

Falo de um santuário que, pese embora com a vetusta idade de 520 anos, continua pujante na alma de um povo que o sente em cada dia que passa, que o acarinha neste agora da vida que acontece.

Nascido, como tantos outros, da fé das mulheres e dos homens, o santuário da Lapa foi, durante séculos, o grande santuário de Portugal e mesmo da Península, aí fazendo o contraponto com o de Santiago de Compostela.

E se através dos mares nunca dantes navegados, os portugueses do século XV e XVI deram novos mundos ao mundo, descobrindo novas terras, por aqui, por esta Beira, por estas, hoje, Terras do Demo, nesses longínquos anos, a Joana, a pastora Joana, rezam as crónicas que vêm de então, descobriu e deu à fé e ao povo esta Senhora, batizada, da Lapa.

E o povo agarrou-a. Venerou-a. E mesmo ali, tratou de dar à Senhora e à Lapa, que a abrigou desde os tempos de Almançor, reza a lenda, uma casa digna, a Capela de Nossa Senhora da Lapa. Capela que, quer ontem, tal qual hoje, os peregrinos demandam para cumprirem as suas promessas, para efetuarem as suas preces e para ‘certificarem’ a sua conduta não pecadora ao conseguirem passar na quelha, bem estreita, entre duas rochas que estão sob a lapa granítica a que a capela deu guarida.

Era essa a narrativa do povo, era eu miúdo. A condição para se passar, ou não, na quelha, não era a dimensão do nosso corpo, eram, sim, os pecados da alma. E os ‘pecadores’, na voz popular, esses, mesmo magros, não passavam! Porém, até hoje, que se saiba, só lá não conseguiram passar mesmo os que não quiseram arriscar a passagem, sabe-se lá se por questões de consciência, pois, com certeza, teriam passado e teriam recebido a absolvição divina que a benevolente Senhora, a da Lapa, tem sempre para dar a todos! A dificuldade está, afinal, tantas vezes, na predisposição para a contrição!

Mas, narrativas e imaginários à parte, o Santuário de Nossa Senhora da Lapa continua a ser, fruto do trabalho dedicado e profícuo de tantas e tantos crentes e amantes da cultura da sua terra, um dos principais locais de culto de Portugal.

E bem estiveram os responsáveis do Santuário quando decidiram assinalar, com uma peregrinação mundial, a acontecer no dia 16 de setembro, os 520 anos que o Santuário carrega aos seus ombros.

Pois bem, se não conhece o santuário, meta os pés a caminho e ala que se faz tarde! Ah, e lá chegado não se esqueça, vá à quelha certificar-se de que não é pecador!

Gosto do artigo
Publicado por
Publicado em Opinião