“MERCADO MAGRIÇO” E A CELEBRAÇÃO DA CASTANHA

O “Mercado Magriço”, nome inventado para evocar essa lendária figura do medievo cavaleiro de amores e aventura, pela sétima vez aconteceu em Penedono entre os dias 11 e 13 de Novembro, certame onde se oferece, de cara levantada, o retrato desse Município alcandorado nesse fim de mundo que divide duas antigas províncias, onde figuram “o […]

  • 11:01 | Quinta-feira, 24 de Novembro de 2016
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O “Mercado Magriço”, nome inventado para evocar essa lendária figura do medievo cavaleiro de amores e aventura, pela sétima vez aconteceu em Penedono entre os dias 11 e 13 de Novembro, certame onde se oferece, de cara levantada, o retrato desse Município alcandorado nesse fim de mundo que divide duas antigas províncias, onde figuram “o trabalho e os dias”, o jeito de ser da sua gente caldeada pelo tempo, o jeito de viver de apego à terra, às lavras, ao gado, às indústrias que florescem para servir novos mercados.

O Mercado Magriço é também celebração da castanha, esse fruto-padrão do alimento dos homens, do alimento dos bichos no monte e desses outros que com o homem convivem, que assim é, porventura, desde Adão, ele agora a oferecer a Eva um punhado de castanhas martaínhas, vermelhas e luzidias como a maçã que ela lhe ofereceu, castanhas apanhadas do chão de um souto que ainda não era de ninguém e onde eram já velhos os castanheiros.

É já impossível saber desde que tempo se cobriram de soutos os montados de Penedono. Desde o tempo do Rei Vamba, dizia Aquilino para os soutos da sua terra. Mas vem mais detrás. E lá está nas Antas o “Castanheiro da Guerra”, altivo e poderoso que, se fosse Neolítico talvez lhe chamassem divindade, dez homens, quase, necessários para o abraçar, cobre-se de pendão no estio, alimentam-se dele as abelhas, e em cada Outono, há mais de mil anos, despeja arrobas sem conto sobre o fundo arcaz de seus donos.


Quando, em 1758, o Ministro do Rei quis saber da abastança que havia nas terras do seu reino, fez chegar aos curas dos lugares um inquérito que devia ser respondido por escrito. E os curas todos dos termos do actual município responderam. E todos, sem excepção, disseram que a castanha era um dos frutos da terra. Com o pão de centeio, algum trigo, milhão, feijões, vinho e azeite só nas terras quentes. Castanhas sim, todos comiam. O cura das Antas diz que há de tudo em mediana; o cura do Souto diz que ali “a maior cópia é de castanha” e na sua ilustração lá vai dizendo que seria desse fruto “donde sem dúvida tirou o nome a freguesia”, dessa louçania dos soutos que lhe correm na ilharga. O cura da Póvoa diz que há “muita castanha” e acrescenta que “há muita castanha da Índia a que vulgarmente nesta vila chamam castanholas”. O cura da paróquia de S. Salvador, de Penedono, diz que há castanha “e castanha da Índia, vulgo nestes países castanholas”. O cura da Granja refere “castanhas de castanheiro, castanhas da Índia, a que alguns chamam castanholas”.

E curiosa é esta referência ao “castanheiro da Índia” (Aesculus hippocastanum), uma robusta árvore que pode atingir algumas dezenas de metros de altura, erradamente dita da Índia, antes originária de latitudes temperadas, espécie bem diferente do castanheiro vulgar (castanea sativa). Presença substantiva ela tem, sem que alguma vez esta árvore estranha, ignorado tempo e maneira da sua introdução, tenha adquirido porte semelhante aos vulgares castanheiros que só longinquamente são irmãos.

E os curas de Penedono nada esclarecem quanto ao uso deste fruto mais temporão e que se oferece, como a castanha martaínha, com uma luminosa cor de rubi. Alimento de gado seria sempre e talvez alimento da gente, seu amargor tolerado como o da bolota de que também se cozia pão.

A castanha todavia celebrada. Sempre. Em Penedono.

 

(Legenda da foto: Penedono. Mercado Magriço. Confrades da Confraria da Castanha no seu stand promocional. 12/11/2016)

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Publicado em Cultura