O debate e a vacuidade de tudo isto

Quem ganhou o debate de 4ª feira passada entre Pedro Passos Coelho e António Costa? Não sei, mas sei quem perdeu. Perdi EU, como cidadão e como eleitor. Não gostei nada do debate entre Passos Coelho e António Costa. De forma que nem o vi até ao fim. Na verdade: – Não gosto de debates […]

  • 13:10 | Sexta-feira, 11 de Setembro de 2015
  • Ler em 2 minutos

Quem ganhou o debate de 4ª feira passada entre Pedro Passos Coelho e António Costa? Não sei, mas sei quem perdeu. Perdi EU, como cidadão e como eleitor.
Não gostei nada do debate entre Passos Coelho e António Costa. De forma que nem o vi até ao fim. Na verdade:
– Não gosto de debates em que os 3 jornalistas se intrometem, sendo elementos ativos, sem fazer aquilo que devem: introduzir temas, controlar o tempo e fazer fact checking. De que serve um jornalista que não está informado e não solicita esclarecimento quando algo que é dito não corresponde à verdade?
– Não posso gostar de debates que pretensamente são sobre o futuro e se estendem por 90 minutos a falar do passado, sem nenhum ensinamento, sem nenhuma reflexão crítica e sem humildade, insistindo num modelo de liderança forte, assertiva, musculada, de quem não se arrepende de nada, em vez da preocupação por dar o exemplo e contribuir para a participação e mobilização da sociedade;
– Não gosto de debates em que os dois adversários falam para si próprios, numa linguagem hermética que não revela a mínima intenção de esclarecer os eleitores. Ficou claro que esta forma de fazer “política” não quer mudar o mundo, mas tao somente alimentar um circuito fechado de pessoas e interesses;
– Não gosto deste circo mediático em que o que interessa não é o que dizem as pessoas, mas tão-somente quem pretensamente ganhou a disputa, para depois as máquinas partidárias fazerem um lamentável e chocante espetáculo de claque barulhenta e inconsequente;
– Sinto-me insultado com este comportamento;
– Não gosto de debates em que os dois candidatos a PM se esquecem da EDUCAÇÃO (cada vez menos um fator de esperança no futuro com a gradual destruição da Escola Pública em função da crescente privatização com os olhos postos nos rankings), do ENSINO SUPERIOR, da CIÊNCIA, da JUSTIÇA, da EUROPA, dos REFUGIADOS (se calhar a crise das nossas vidas), da POBREZA, da degradação do TRABALHO, do DESENVOLVIMENTO REGIONAL (se calhar a vertente mais importante para o EMPREGO), dos FUNDOS COMUNITÁRIOS (o nosso único porta-moedas), entre muitos outros assuntos relevantes;
– Não gosto de debates em que sinto que o cidadão não é a preocupação essencial de quem fala, mas antes um efeito colateral de estratégias de poder para as quais, de facto, não tenho a menor paciência;
– Não gosto de debates transformados em espetáculos mediáticos em que conta tudo, a coreografia, o guarda-roupa, a fotografia, as qualidades de representação dos protagonistas, o trailer, a antestreia, etc., menos o conteúdo e a fundamentação do que é proposto.
E depois há José Sócrates. Numa situação normal o ex-PM seria somente motivo de uma profunda e séria reflexão sobre a qualidade das pessoas que elegemos, em todos os partidos do arco da governação, sem nenhum tipo de escrutínio público, para os mais elevados cargos da nação, o que é o mesmo que dizer, sobre a qualidade da nossa democracia. O facto de José Sócrates ter tomado conta da campanha eleitoral, e do referido debate, ao ponto de ser mais relevante aquilo que ele come ao jantar do que as opiniões dos candidatos a PM, diz tudo da enorme vacuidade em que se transformou, 41 anos depois, a vida pública e política portuguesa.
Repito, não sei quem ganhou aquele debate, nem me interessa. Eu perdi, definitivamente.
(Diário As Beiras de 11 de Setembro de 2015)
 

Gosto do artigo
Publicado por
Publicado em Opinião