Nunca atento, venerador e obrigado

No dia 8 de Abril de 1942, Belisário Pimenta estava em Coimbra. No seu escritório, rodeado de livros, sentado à secretária, que imagino arrumada com esmero, tendo talvez à direita uma pilha de papéis sobre episódios militares, produziu o rascunho de uma carta destinada ao poeta Afonso Lopes Vieira. Deu-lhe o número 182 e guardou-a […]

  • 23:06 | Domingo, 13 de Outubro de 2019
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No dia 8 de Abril de 1942, Belisário Pimenta estava em Coimbra. No seu escritório, rodeado de livros, sentado à secretária, que imagino arrumada com esmero, tendo talvez à direita uma pilha de papéis sobre episódios militares, produziu o rascunho de uma carta destinada ao poeta Afonso Lopes Vieira. Deu-lhe o número 182 e guardou-a na página 293 do epistolário. Inseriu o volume na estante, voltou a sentar-se, abriu o diário pessoal e anotou as impressões certas e verdadeiras sobre o que acabara de remeter pelo correio.

«O Lourenço Chaves de Almeida é que me meteu nestas andanças com o Poeta. Com franqueza, passava bem sem isso; mas agora é aguentar e cara alegre. Tenho de ser amável, sem cair na situação de atento, venerador e obrigado… Estes príncipes da Literatura gostam de ter à sua roda quem os corteje e adule. É natural e humano. Mas vamos a ver se me arranjo sem enfileirar na clientela dos admiradores encartados e não encartados…»

O circunspecto Belisário ainda não sabia que iria visitar Afonso Lopes Vieira, em Lisboa, no dia 13 de Junho. O encontro durou duas horas e rendeu cinco páginas no diário.


Nuno Rosmaninho

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Publicado em Opinião