MUROS DA VERGONHA

    A Europa volta a ter muros. Depois da queda do muro de Berlim, um momento histórico que unificou a Alemanha, estaria longe do pensamento dos europeus que se construíssem muros noutros países. A um problema multidimensional, os fluxos de refugiados, que se transformou num drama humanitário, a resposta mais eficaz no curto prazo, […]

  • 9:29 | Quarta-feira, 05 de Agosto de 2015
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A Europa volta a ter muros. Depois da queda do muro de Berlim, um momento histórico que unificou a Alemanha, estaria longe do pensamento dos europeus que se construíssem muros noutros países. A um problema multidimensional, os fluxos de refugiados, que se transformou num drama humanitário, a resposta mais eficaz no curto prazo, para alguns países, passa por construir muros que obstaculizem a passagem dos refugiados. Estes homens e mulheres procuram a segurança e a proteção na sociedade de acolhimento, uma vida com presente e esperança no futuro.


O drama tornou-se mais visível em Calais porque centenas de migrantes estão a cercar a entrada do túnel sob o Canal da Mancha para tentarem chegar a Inglaterra. Anseiam chegar à terra de sua majestade porque tem fama de integrar bem os estrangeiros. Chegados às imediações de Calais, é bom não esquecer o percurso que estas pessoas já terão feito. Sujeitos às mais diversas vicissitudes, guerras, tráfico de seres humanos, exploração sexual, eis que se tornam aos olhos de David Cameron em “pragas”. O seu discurso é bem claro: “(…) uma praga de imigrantes atravessa o Mediterrâneo à procura de uma existência melhor e procura ir para o Reino Unido por existir trabalho, ter uma economia em pleno crescimento e ser um sítio incrível para se viver”.

Este senhor não fica nada bem na fotografia e tem sido alvo de críticas mais do que justificadas. Tem direito a defender os interesses do seu país, mas não tem o direito de desrespeitar os princípios básicos dos direitos humanos universais.

A situação em Calais criou mal estar entre a Inglaterra e a França. Marine Le Pen já cavalga a onda e vocifera: “Há que impedir a entrada de imigrantes em França. A Frente Nacional é o único partido a propor uma verdadeira política contra a imigração massiva, baseada na tolerância zero e expulsão sistemática dos clandestinos.”

A extrema direita capta, num primeiro momento, a atenção dos eleitores e com o agravar dos problemas económicos na Europa, conquista os votos. A incapacidade de resposta dos partidos europeus no poder desperta os radicalismos de esquerda e de direita e densificam-se as sombras da xenofobia, do racismo e dos extremismos.

A Europa vive tempos de incerteza e de quebra de laços de solidariedade. Os países do Norte olham com desconfiança para os do Sul. Com o agudizar da crise, os índices de insegurança aumentam e o “outro” é olhado com mais desconfiança. Os números do desemprego contribuem para a hostilidade para com os imigrantes e refugiados.

Um estudo elaborado pela União Europeia coloca a emigração como principal preocupação das populações (38%)…

Calais é, por estes dias, o ponto mais mediático, mas não nos esqueçamos de Lampedusa, do sul de Espanha, da Hungria, da Grécia…

Por estes dias morreu sufocado um marroquino, imigrante clandestino, que tentava chegar ao porto de Almeria num ferryboat proveniente de Melilla, o enclave espanhol no norte de África, enfiado numa mala que estava dentro de um carro que seguia no navio.

A construção europeia deve ser repensada, mas a origem do problema estará no Médio Oriente e em África.

Este problema só se resolverá no médio / longo prazo com a negociação de estratégias entre os países de origem e de acolhimento.

Para já, impõem-se medidas urgentes que, no curto prazo, sejam suficientes para resolver o drama que é dos europeus e não deste ou daquele país a braços com a atual situação.

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Publicado em Opinião