Maus Valores

Houve um tempo em que se apontava o desporto, futebol incluído, como escola de bons valores.

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  • 21:38 | Segunda-feira, 17 de Fevereiro de 2020
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Ontem, em Guimarães, aquilo que tantas e tantas vezes acontece, foi audível e visível a todos os que não se fingem de mortos. Um jogador negro foi insultado por…. por ser isso mesmo, negro. Um nojo. Lá surgiram as habituais virgens ofendidas que se surpreendem com isto da mesma forma que com as revelações sobre a Isabel dos Santos.

Houve um tempo em que se apontava o desporto, futebol incluído, como escola de bons valores. Nesse tempo esse argumento era até usado para que o Estado (central, regional, local) transferisse verbas para clubes desportivos, pois a promoção desportiva era vista como algo vantajoso, formadora de carácter, de companheirismo, de solidariedade, de igualdade dentro da diferença.

Em 2020, se não nos limitarmos a olhar e quisermos ver, facilmente constataremos que o desporto em Portugal está doente. Está doente porque uma modalidade é de tal forma hegemónica que tudo contamina, dentro e fora daquilo a que nos habituamos a chamar desporto. Está doente porque essa modalidade se transformou num negócio que subverteu todos os valores que supostamente deviam estar associados à prática desportiva.


O futebol profissional em Portugal há muito que se transformou na antítese do que devia ser e daquilo que ainda hoje muito apregoam quem é. Hoje o futebol aparenta ser uma escola de maus hábitos, de excepcionalidades, de fuga ao Estado de Direito, onde aos poderosos tudo é permitido. Seja na pele de um dirigente desportivo influente, seja na de um árbitro, seja na de um membro de claque, aparentemente tudo ou quase tudo é permitido, aparentemente tudo é desculpado.

Temos um clima permanente de suspeição, de viciação de resultados, de tráfico de influências, de ingerências na justiça, de lavagem de dinheiros, de fuga aos impostos, de agressões verbais e físicas, de assassínios, etc.. Dependendo de quem as pratica, temos indignação ou apoio/tolerância de uma mole imensa de adeptos que mudam de opinião consoante a cor da camisola do bandido. É-o de forma tão ridícula que há adeptos que insultam o negro da equipa adversária por ser negro mas exultam o negro da sua equipa por marcar um golo. Uma estupidez pegada e ridícula (como seria obrigatório ao falar de racismo).

Se enquanto sociedade continuarmos a apoiar ou tolerar este regime de excepcionalidade totalmente abjecta que grassa, não nos admiremos que outros Maregas sejam insultados, em crescendo, que outros crimes (sejam eles fiscais ou de sangue) se vão tornando cada vez mais comuns. Ou cortamos as cabeças à hidra enquanto é tempo ou, se fizermos como os restantes jogadores que ontem estavam em campo, fingirmos que nada disto é directamente com eles, o que teremos muito provavelmente daqui a uns tempos é o lodo a invadir a nossa própria casa.

Há por aí evidencias mais que suficientes para investigar e encalabouçar quem se alimenta verdadeiramente desta podridão. Se sem subterfúgios quisermos punir quem as pratica em vez de nos preocuparmos com os Rui Pintos, com o conteúdo e não com a forma, talvez amanhã tenhamos desporto competitivo e não uma fantochada nauseabunda. Ou vamos continuar a tolerar isto, a sua excessiva mediatização, para disfarçar outras desgraças?

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Publicado em Opinião