IP3

Aproveitarem mais um acidente mortal no IP3, para fazerem política partidária e arvorar-se em paladinos da justiça para as vítimas do IP3, acaba por ser um ato cínico

  • 11:46 | Sábado, 20 de Janeiro de 2018
  • Ler em 3 minutos

Desde a sua entrada em funcionamento que o PCP, populações e instituições várias, como a Associação de Utentes e Sobreviventes do IP3/A24 lutam, juntamente com as famílias dos sinistrados, pela beneficiação profunda do Itinerário Principal que liga Coimbra a Viseu, propondo e conseguindo intervenções, como a da colocação do separador central de betão em alguns troços, melhoramento que veio minorar os efeitos trágicos dos frequentes acidentes ocorridos nesta via.

Neste longo e penoso caminho pela beneficiação do IP3, têm sido variados os sectores da sociedade que pouco a pouco se juntam à reclamação, incluindo deputados, autarcas e mesmo governantes. Mas, honra lhe seja feita, foi a Associação de Utentes e Sobreviventes do IP3/A24, quem encetou diferentes formas públicas de sensibilizar os responsáveis governamentais para a necessidade absoluta de retificar o traçado, introduzindo quatro faixas em toda a extensão do IP3, com um perfil de autoestrada sem portagens.

Os apelos tão bombásticos como serôdios e inócuos dos autarcas de Tondela e Viseu, dramatizando a situação e exigindo, reparem bem, “um novo piso e melhorias no traçado”, como se o problema fosse da correção de uma ou outra curva ou de mais ou menos alcatrão em alguns troços, só pode gerar, no mínimo estupefação. Neste percurso de mais de duas décadas de denúncia e luta por um novo IP3, nunca demos conta do empenho do Senhor Presidente da Câmara de Viseu e de Tondela a favor da reabilitação do IP3 (e teria sido muito bem vinda), nem da sua solidariedade pública com “as famílias” das “vítimas”. Casos trágicos idênticos aos de agora não faltaram, infelizmente, nos últimos anos.


Aproveitarem mais um acidente mortal no IP3, para fazerem política partidária e arvorar-se em paladinos da justiça para as vítimas do IP3, acaba por ser um ato cínico, eivado de oportunismo, em face da ausência de militância anterior nesta causa.

Se ao autarca de Tondela se pode compreender a reação pública, por dever de solidariedade enquanto responsável por um território que consecutivamente vê acidentes trágicos dizimar cidadãos do seu Concelho, já ao edil de Viseu, é preciso confrontar com o seu anterior silêncio. Quando este diz “que até hoje nenhum governo teve a capacidade de resolver um problema tão grave”, fala verdade, mas quer fazer esquecer que ele próprio foi até há quatro anos atrás governante, logo, também corresponsável pelas tragédias ocorridas no IP3. Já antes tinha sido longos anos deputado, apoiante incondicional de governos do seu partido, principais responsáveis pela falta de soluções para o que ele agora apelida de “estrada da morte”. Memória curta.

Afinal a solução proposta pelo autarca de Viseu de mais um pouquinho de alcatrão, da correção de um ou outro “ponto negro” da IP3 percebe-se. É que assim, continuamos a ter uma estrada má, perigosa, que não beneficia a atividade económica nem as populações adjacentes nem evita novas vítimas. Cenário ideal para continuar a reclamar a dita “Via dos Duques” (cujo traçado merece a reprovação de autarcas e populações), a tal, a construir por privados e com portagens, pois claro. Assim, quem tiver dinheiro viajará em segurança pela privada autoestrada ducal, quem não tiver, pode continuar a morrer numa qualquer curva do IP3 público.

Esta posição dos referidos autarcas não coincide com a posição assumida pela CIM da Região de Coimbra, quando esta afirma que “não obstante a necessidade de construção de uma nova via entre Coimbra e Viseu, é prioritária e urgente a reparação e beneficiação do atual IP3, de modo a diminuir os elevados índices de sinistralidade e a garantir que esta via estruturante para o país continue a cumprir as suas funções”.

Fazendo eco da reclamação das populações, o PCP reclama a necessidade absoluta de retificar o traçado, introduzindo quatro faixas em toda a extensão do IP3, com um perfil de autoestrada e sem portagens.

É por esta solução que nos continuaremos a bater.

Gosto do artigo
Publicado por
Publicado em Opinião