Episódio político

Em meados de Janeiro de 1943, Belisário Pimenta recebeu um correligionário para jantar, coronel como ele, a que juntou outro amigo. Falaram de política, de como a guarnição de Lisboa tentou correr com Santos Costa do cargo de subsecretário de Estado da Guerra em 1938. Nesse tempo, os militares ainda tentavam superiorizar-se a Salazar, mas […]

  • 14:21 | Quinta-feira, 28 de Novembro de 2019
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Em meados de Janeiro de 1943, Belisário Pimenta recebeu um correligionário para jantar, coronel como ele, a que juntou outro amigo.

Falaram de política, de como a guarnição de Lisboa tentou correr com Santos Costa do cargo de subsecretário de Estado da Guerra em 1938. Nesse tempo, os militares ainda tentavam superiorizar-se a Salazar, mas este, melifluamente, lamentou os boatos e mal-entendidos e exaltou a harmonia e a disciplina do Exército. Chamou os mais descontentes para uma reunião. Na sua presença, os militares deram por falso o que era verdade e, um a um, deixaram-se levar por Salazar, «que os soube comer a todos como bom jesuíta que é». Isto disse Belisário Pimenta, a título de conclusão, no diário.

Estas coisas, que são para nós um episódio obscuro de uma história velha, eram, no dealbar de 1943, um facto actual, estrepitoso, contado em segredo, no recato do lar, confiando nos amigos e enchendo uma pessoa de sentido político e histórico. O que Belisário Pimenta não conta é a ementa do jantar.


Nuno Rosmaninho

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Publicado em Opinião